MemóriaUFPE: Irmão de Pierre Lucena (atual candidato a Reitor) quer implodir o CFCH
Observação do blog: O texto abaixo foi reeditado agora em 2011 pelo Sr. Andre Raboni, que cortou parte do seu texto e incluiu outros trechos com fins meramente eleitorais para beneficiar seu irmão Pierre Lucena. O blog aqui disse não ao autor do texto na sua ofensiva de publicação de comentários ofensivos contra pessoas da UFPE aqui no blog , pois consideramos que o nosso blog é informativo e não servirá os para fins nada educativos do Sr. Andre Raboni.
TEXTO ORIGINAL (Blog Acerto de Contas, 2009)
CFCH: um monumento à ditadura e à sociedade fragmentária
Andre Raboni
O Centro de Filosofia e Ciências Humanas, localizado na Universidade Federal de Pernambuco, é um prédio com a cara da Ditadura Militar brasileira. No alto de seus 15 andares, distribuem-se 5 cursos, que são: História, Ciências Sociais, Filosofia, Psicologia e Ciências Geográficas (este semestre foram inaugurados mais alguns cursos, como Arqueologia e Ciências Políticas).
O CFCH foi erguido na primeira metade da década de 1970, na transposição dos governos Médici-Geisel, em 1974 – vértice entre os pontos altos e baixos do regime militar brasileiro. Foi o resultado da fusão dos departamentos da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Pernambuco (criada em 1950), e do Instituto de Ciências do Homem, primeiramente denominado de Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
O CFCH é um espigão do qual, lá de cima, até o mar dá pra se ver. Certamente, a vista do alto do prédio é bastante bela. Mas, não foi para proporcionar uma bela vista à comunidade acadêmica que o CFCH foi erguido da forma como foi.
Falemos de outro aspecto, efeito intrínseco da disposição arquitetônica escolhida para o nosso querido Centro. Sua disposição vertical, e também sua aparência de “repartição pública”; ambos causam efeitos danosos ao que opera internamente.
O objetivo de sua disposição vertical é óbvio: fragmentar a convivência multidisciplinar entre alunos e professores de cursos diversos, colocando cada um em seu andar. Sabemos que os primeiros períodos estão alocados no 1º andar, e abrigam diversos outros cursos, como Direito, Administração, Ciências Contábeis, etc.
Findo o 1º período (ou “tronco comum”), cada curso parte então para seu andar: História e Ciências Sociais (mais Psicologia no turno da manhã) ficam no 2º andar; Filosofia no 3º; Ciências Geográficas no 5º e 6º, Direito para a FDR, e os demais cursos, cada um para seu centro específico. Isso para as graduações.
Os departamentos, cada um no seu devido andar (a linguagem “imperativa” desta oração não é sem intenção de minha parte).
Destarte, em um prédio sem “ambientes de sociabilização” é deveras danoso para a integração das atividades acadêmicas, a tal multidisciplinaridade. De um ano pra cá, até criaram um pequeno ambiente, carinhosamente apelidado de “espaço Durkheim”, onde corre-se o risco de cair alguma coisa lá de cima, na cabeça do indivíduo…
Há anos e anos que está sendo reformada a parte de baixo do prédio, onde, antes, haviam alguns poucos bancos. A fachada externa também está passando por reforma, e como toda reforma de fachada, é apenas uma reforma de fachada.
Em uma sociedade que prima cada vez mais pela especialização, o CFCH tal como erquigo é uma mão na luva. Mas, particularmente, desconfio de toda Ciência que se encerra em si mesma – sobretudo as Ciências Humanas. É crescente a necessidade de interação. E, ela deveria ser proporcionada pelas estruturas acadêmicas, em vez de ser um prêmio aos que se dedicam às atividades extra-curriculares.
Afora o tal “espaço Durkheim”, aos ‘habitantes’ do CFCH restam apenas a parada de ônibus e o Bar do Bigode/Cavanhaque, para exercerem de fato a sua integração social.
Mas, há outros problemas.
O CFCH é um monumento à preservação da memória da Ditadura Militar brasileira. Apenas com tal significado acho que o CFCH poderia vir a ser preservado, conquanto tivesse que ser esvaziado.
Este resquício (mais que mero emblema semiótico) reflete ainda suas intenções primeiras: compartimentar de forma fragmentária as Ciências Humanas e seus agentes.
No período da Ditadura Militar, até certo ponto, vá lá que esta função arquitetônica cumpria seu objetivo de forma exímia: entre outras coisas, evitar (ou ao menos “controlar”) a interação entre as pessoas responsáveis por pensar a sociedade.
Contenção de motins, de revoltas e de revoluções, estes eram os principais objetivos daquela arquitetura bisonha. Atualmente, acho que isso não faz mais sentido.
Não se justifica que tanto tempo depois, ainda seja mantido o mesmo formato de fragmentação científica e social. Isto é inaceitável, e deveria ser motivo de reflexão em sala de aula, bares, blogs e lares.
Minha experiência acadêmica, curiosamente, revela o contrário, já que tenho vários amigos de formação diversas da minha, que é História. Conheço pessoas de Ciências Sociais, Filosofia, Psicologia, Geografia. Mas, isso se deve muito à minha disposição em interação, também ao Bar do Bigode e à parada de ônibus (que está um caos, e merece uma avaliação em separado), e, em última hipótese, aos congressos e palestras.
Afora isso, devo aos acasos da vida os poucos encontros que tive, à minha participação em uma gestão do Diretório Acadêmico de História, e, claro, às atividades internéticas.
No entanto, minhas observações empíricas não seguem a mesma trilha – embora isso pareça contraditório. Mesas do Bar do Bigode refletem em muito a estrutura cfchiana: são verdadeiros guetos de pouca ou nenhuma interação social, onde os indivíduos se colocam sempre acima e abaixo de seus vizinhos, nunca ao lado. Ou seja, nem o Bigode está cumprindo sua função de “bar”, ambiente de encontro de diversidades para o lazer e interação social.
Obviamente, não devemos delegar à arquitetura cfchiana toda a responsabilidade para a criação desse ambiente de “desconfiança” e pouca interação entre as Ciências Humanas. Muito disso é responsabilidade das próprias pessoas, que ingressam na Universidade com uma forte mentalidade colegial, de “turminhas” e “galeras”, e dão contínua permanência a isso ao longo da vida.
O estranho não tem vez na minha mesa – esta é a máxima, exposta de forma poética.
E, o que fazer diante disso? É mesmo preciso fazer algo para reverter este quadro parcial que retratei? Ou, será que minhas reflexões são inúteis?
Talvez sejam inúteis. Mas, de toda forma, muita coisa que acreditamos úteis não passam de tolices do cotidiano. Assim, creio que seja justo e coerente pensar sobre o assunto que estou escrevendo, e questionar algumas coisas que parecem passar desapercebidas por muitas pessoas.
As respostas para esses questionamentos deixo a cargo das reflexões daqueles que leram este texto.
O que posso adiantar é que construir outro prédio e demolir o CFCH não me parece uma ideia absurda. Ou, se não demolir, preservá-lo em sua real função: como um monumento nacional em memória da Ditadura Militar – talvez até abrigando os documentos ainda sigilosos do período, que precisam ser abertos, para que se faça cumprir nosso direito constitucional à Verdade e à Informação.
Afora os óbvios custos financeiros de tal obra, a relação custo/benefício pode ser positiva.
A integração disciplinar entre as Ciências Humanas é algo que deve ser pensado, antes que seja tarde demais.
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TEXTO ORIGINAL (Blog Acerto de Contas, 2009)
CFCH: um monumento à ditadura e à sociedade fragmentária
Andre Raboni
O Centro de Filosofia e Ciências Humanas, localizado na Universidade Federal de Pernambuco, é um prédio com a cara da Ditadura Militar brasileira. No alto de seus 15 andares, distribuem-se 5 cursos, que são: História, Ciências Sociais, Filosofia, Psicologia e Ciências Geográficas (este semestre foram inaugurados mais alguns cursos, como Arqueologia e Ciências Políticas).
O CFCH foi erguido na primeira metade da década de 1970, na transposição dos governos Médici-Geisel, em 1974 – vértice entre os pontos altos e baixos do regime militar brasileiro. Foi o resultado da fusão dos departamentos da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Pernambuco (criada em 1950), e do Instituto de Ciências do Homem, primeiramente denominado de Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
O CFCH é um espigão do qual, lá de cima, até o mar dá pra se ver. Certamente, a vista do alto do prédio é bastante bela. Mas, não foi para proporcionar uma bela vista à comunidade acadêmica que o CFCH foi erguido da forma como foi.
Falemos de outro aspecto, efeito intrínseco da disposição arquitetônica escolhida para o nosso querido Centro. Sua disposição vertical, e também sua aparência de “repartição pública”; ambos causam efeitos danosos ao que opera internamente.
O objetivo de sua disposição vertical é óbvio: fragmentar a convivência multidisciplinar entre alunos e professores de cursos diversos, colocando cada um em seu andar. Sabemos que os primeiros períodos estão alocados no 1º andar, e abrigam diversos outros cursos, como Direito, Administração, Ciências Contábeis, etc.
Findo o 1º período (ou “tronco comum”), cada curso parte então para seu andar: História e Ciências Sociais (mais Psicologia no turno da manhã) ficam no 2º andar; Filosofia no 3º; Ciências Geográficas no 5º e 6º, Direito para a FDR, e os demais cursos, cada um para seu centro específico. Isso para as graduações.
Os departamentos, cada um no seu devido andar (a linguagem “imperativa” desta oração não é sem intenção de minha parte).
Destarte, em um prédio sem “ambientes de sociabilização” é deveras danoso para a integração das atividades acadêmicas, a tal multidisciplinaridade. De um ano pra cá, até criaram um pequeno ambiente, carinhosamente apelidado de “espaço Durkheim”, onde corre-se o risco de cair alguma coisa lá de cima, na cabeça do indivíduo…
Há anos e anos que está sendo reformada a parte de baixo do prédio, onde, antes, haviam alguns poucos bancos. A fachada externa também está passando por reforma, e como toda reforma de fachada, é apenas uma reforma de fachada.
Em uma sociedade que prima cada vez mais pela especialização, o CFCH tal como erquigo é uma mão na luva. Mas, particularmente, desconfio de toda Ciência que se encerra em si mesma – sobretudo as Ciências Humanas. É crescente a necessidade de interação. E, ela deveria ser proporcionada pelas estruturas acadêmicas, em vez de ser um prêmio aos que se dedicam às atividades extra-curriculares.
Afora o tal “espaço Durkheim”, aos ‘habitantes’ do CFCH restam apenas a parada de ônibus e o Bar do Bigode/Cavanhaque, para exercerem de fato a sua integração social.
Mas, há outros problemas.
O CFCH é um monumento à preservação da memória da Ditadura Militar brasileira. Apenas com tal significado acho que o CFCH poderia vir a ser preservado, conquanto tivesse que ser esvaziado.
Este resquício (mais que mero emblema semiótico) reflete ainda suas intenções primeiras: compartimentar de forma fragmentária as Ciências Humanas e seus agentes.
No período da Ditadura Militar, até certo ponto, vá lá que esta função arquitetônica cumpria seu objetivo de forma exímia: entre outras coisas, evitar (ou ao menos “controlar”) a interação entre as pessoas responsáveis por pensar a sociedade.
Contenção de motins, de revoltas e de revoluções, estes eram os principais objetivos daquela arquitetura bisonha. Atualmente, acho que isso não faz mais sentido.
Não se justifica que tanto tempo depois, ainda seja mantido o mesmo formato de fragmentação científica e social. Isto é inaceitável, e deveria ser motivo de reflexão em sala de aula, bares, blogs e lares.
Minha experiência acadêmica, curiosamente, revela o contrário, já que tenho vários amigos de formação diversas da minha, que é História. Conheço pessoas de Ciências Sociais, Filosofia, Psicologia, Geografia. Mas, isso se deve muito à minha disposição em interação, também ao Bar do Bigode e à parada de ônibus (que está um caos, e merece uma avaliação em separado), e, em última hipótese, aos congressos e palestras.
Afora isso, devo aos acasos da vida os poucos encontros que tive, à minha participação em uma gestão do Diretório Acadêmico de História, e, claro, às atividades internéticas.
No entanto, minhas observações empíricas não seguem a mesma trilha – embora isso pareça contraditório. Mesas do Bar do Bigode refletem em muito a estrutura cfchiana: são verdadeiros guetos de pouca ou nenhuma interação social, onde os indivíduos se colocam sempre acima e abaixo de seus vizinhos, nunca ao lado. Ou seja, nem o Bigode está cumprindo sua função de “bar”, ambiente de encontro de diversidades para o lazer e interação social.
Obviamente, não devemos delegar à arquitetura cfchiana toda a responsabilidade para a criação desse ambiente de “desconfiança” e pouca interação entre as Ciências Humanas. Muito disso é responsabilidade das próprias pessoas, que ingressam na Universidade com uma forte mentalidade colegial, de “turminhas” e “galeras”, e dão contínua permanência a isso ao longo da vida.
O estranho não tem vez na minha mesa – esta é a máxima, exposta de forma poética.
E, o que fazer diante disso? É mesmo preciso fazer algo para reverter este quadro parcial que retratei? Ou, será que minhas reflexões são inúteis?
Talvez sejam inúteis. Mas, de toda forma, muita coisa que acreditamos úteis não passam de tolices do cotidiano. Assim, creio que seja justo e coerente pensar sobre o assunto que estou escrevendo, e questionar algumas coisas que parecem passar desapercebidas por muitas pessoas.
As respostas para esses questionamentos deixo a cargo das reflexões daqueles que leram este texto.
O que posso adiantar é que construir outro prédio e demolir o CFCH não me parece uma ideia absurda. Ou, se não demolir, preservá-lo em sua real função: como um monumento nacional em memória da Ditadura Militar – talvez até abrigando os documentos ainda sigilosos do período, que precisam ser abertos, para que se faça cumprir nosso direito constitucional à Verdade e à Informação.
Afora os óbvios custos financeiros de tal obra, a relação custo/benefício pode ser positiva.
A integração disciplinar entre as Ciências Humanas é algo que deve ser pensado, antes que seja tarde demais.
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