FONTE: ADUFEPE
Magnífico Reitor, Prof. Amaro Lins
Diretora do CFCH, Profa. Socorro Ferraz
Vice-Diretora do CFCH, Profa. Lucinda Macedo
Srs e Sras. Chefes de Departamento e Coordenadores de Curso de graduação do CFCH
Srs e Sras. Patronos, Professores Paraninfos e homenageados das turmas dos cursos de graduação do CFCH
Prezados estudantes concluintes das turmas dos cursos de graduação do CFCH
Srs país, parentes e convidados
Minhas senhoras, meus senhores
Foi com grande alegria que recebi da Turma de concluintes do curso de História, 2009.2, esta homenagem que, de pronto, compartilho com todos os colegas docentes que atuaram para a formação daqueles/as a quem o Magnífico Reitor confere, hoje, o grau de licenciado/a e de bacharel em História pela UFPE.
No bem composto comunicado da homenagem que me foi concedida, encontrei grafada a sugestiva expressão: Tempus fugit. Para uma turma de concluintes de um curso de História, a escolha foi muito feliz. Estudiosos do tempo que são, estudantes que se preparam para servir a sociedade como historiadores ou professores de história aprendem, desde cedo, a render homenagem ao “deus” tempo, e tendo de conhecer as diversas problemáticas que envolvem os acontecimentos históricos, defrontarem-se com o debate e os desafios da construção dos conhecimentos historicamente acumulados sobre o tempo. Aprendem assim que, junto ao seu par, o espaço, o tempo é um conceito estruturante dessa área do conhecimento humano e nos permite situar o fazer histórico, constituindo-se em um dos seus marcos fundamentais. Aprendem, ainda, que o tempo não é uno, nem linear. O tempo é múltiplo e comporta simultaneidades. Compreendem então que, para além do tempo histórico, há tempos a mã cheia para muitos gostos, significados e sentidos. O tempo alude a uma realidade material, mas comporta também uma dimensão simbólica que homens e mulheres criam. Enquanto uma criação humana, há o tempo cósmico que se conta por anos-luz, há o tempo geológico que se mede por milhões de anos e há também o tempo histórico que se afere por séculos, décadas e datas. O tempo que se conta, que se mede, que se afere é o tempo cronológico, essa fantástica criação do mundo da quantificação do real que possibilitou satisfazer nosso desejo, nunca satisfeito, de tentar exercer o controle sobre a realidade que nos concerne por meio da fabricação de referências que atendem pelos nomes de anos-luz, milênio, século, ano, dia, hora, minuto, segundo....,
A contrapelo do rigor de uma métrica que a tecnologia e ciência refinam a cada momento, falamos também em tempo da existência, tempo da alegria, tempo da dor. Noções que aludem a experiências muito distintas e de distintos significados. Costumamos dizer que um fato que nos causa dor tende a ser sentido como de maior duração que um que cause alegria. O significado subverte o rigor da métrica e irrompe soberano, dizendo-nos que o tempo medido, por vezes, de nada vale diante do tempo sentido. Tempo que se mede e tempo que se sente. Tempo que se quer controlar e tempo rebelde que não se submete. Tempo que foge, tempo que escapa. Tempus fugit. Aí talvez esteja o significado da expressão latina que nomeia a turma que me homenageia. A expressão aludiria, portanto, à relação do homem, da mulher com o tempo, podendo significar que, sendo um dado humano, é expressão de uma experiência singular, de modo que, só vagamente, exercemos controle sobre o tempo, porque tempo é humanamente soberano.
Mas, afinal, que tempo é esse que vivemos? Permitam-me falar de como o vejo, falar do que ele descortina, do que ele comporta. Para isso, quero dizer logo do lugar que falo. Falo como um professor que há 32 anos, completados no próximo primeiro de abril, contribui para formar professores nesta universidade. Falo, portanto, do lugar social de uma instituição de referência para o sistema de educação superior e, em especial, para a formação de profissionais para o magistério da educação básica, com todas as responsabilidades que essa condição inspira. E não são poucas...
Permitam-me debulhar a narrativa.
Depois de anos bicudos, anos que o dramaturgo Bertolt Brecht chamaria de um “tempo sem sol”, as universidades públicas federais entraram nesta última quadra da primeira década dos anos 2000 num tempo de esperança. Passaram a conhecer um processo de expansão e reestruturação tão importante quanto aquele infeliz e tristemente imposto no final dos anos 60 do século passado. Dentro de alguns anos, o efeito distanciamento nos permitirá perceber a grandeza do que foi feito e vem sendo feito pela educação superior pública nos anos que correm. Criam-se campus, cursos, currículos novos. Expandem-se cursos já existentes e atualizam-se percursos formativos de modo a torná-los mais afeitos aos desafios da contemporaneidade. Abrem-se oportunidades para segmentos sociais, regiões e localidades antes excluídos do direito social básico da educação de qualidade. Desenvolvem-se talentos pelas mãos de docentes e técnico-administrativos, todos servidores públicos de IES federais, deixando à mostra a capacidade que tem o Estado, quando há vontade política, para responder, com qualidade social, às necessidades da sociedade e aos ditames da inclusão. Não seria demasiado dizer que as recentes medidas de políticas educacionais relativas à educação superior pública contrastam com o equívoco histórico e político praticado por forças sociais, tristes e mesquinhas forças sociais, que sistemática e didaticamente afirmaram, por mais duas décadas, a necessidade de diminuição do tamanho do Estado e a demonização dos servidores públicos, cantando a plenos pulmões e aos sete ventos as excelências do sacro santo Mercado. Erigido como paradigma da nova ordem social, esses tempos de desconstrução do Estado do Bem Estar Social e de hegemonia do indivíduo, da selvagem competição e da supremacia dos ditos mais capazes legaram, de um lado, o desapreço pelo trabalho produtivo em favor da acumulação de capital financeiro, obtida em jogatinas realizadas através de papéis que trafegam nas infoways das Tecnologias da Informação e Comunicação. Legaram, por outro lado, a dor, o sofrimento, a fome, o analfabetismo e o crescimento da Aids no continente africano. Quem semeia ventos antisolidários colhe Desesperança.
A mais recente crise mundial revelou o tamanho do equívoco, mas também a esperteza dessas mesmas forças sociais neoliberais que dirigiam o planeta quando ele quase capotou. A saída de emergência tomada foi chamar de volta o Estado, reivindicando, de pronto, o desembolso de gordas somas da poupança nacional. Doce ironia: os aiatolás do Mercado curvaram-se ao Santo Estado e, ante a sua ação estabilizadora, passaram a dizer amém! Doce ironia, estratégica ironia!
O Brasil, que já chamara o Estado de volta alguns anos antes, pode navegar em águas tão turbulentas de forma mais segura e parece fazer a travessia de modo menos traumático.
O novo impulso dado às IFES surge nesse contexto, num contexto de retomada do papel do Estado brasileiro na formulação de políticas sociais. A expansão e reestruturação de que falamos antes é um capítulo da retomada da capacidade do Estado brasileiro de realizar investimentos sociais que venham a atender às demandas da sociedade. Tais ações explicariam o novo horizonte que se coloca para nossas instituições universitárias federais e o clima de esperança que toma conta de um bom número de docentes, técnico-administrativos e estudantes. Estamos em um novo tempo e isto não pode ser visto como mero exercício de retórica, mas narrativa de coisa feita e se fazendo.
Depois de duas décadas de desesperança, abrem-se portas e janelas, descortinam-se caminhos novos, frutos de tanta luta, de tanto suor, de tanto pensar, de tanta ação solidária.
O esforço feito até aqui é, porém, insuficiente para o tamanho do desafio que temos que enfrentar para incluir jovens no ensino superior. Os últimos levantamentos apontam que o atendimento por IES a brasileiros entre 17 e 25 anos não passa de meros 13,9%. Muito longe, portanto, do que pretendeu realizar o Plano Nacional de Educação, aprovado em 2001, que apontou como meta ampliar o atendimento até alcançar a 30% dessa mesma faixa etária. Tal realidade só faz confirmar a tese sustentada por diversos cientistas sociais que afirmam o quanto as estruturas desse país são capazes de produzir injustiça, desigualdade e exclusão.
Triste realidade, desafiante realidade. Tamanho desafio fez com que as IFES, reunidas em fevereiro deste ano, aprovassem proposição para o novo PNE, discutida na CONAE 2010, no final do mês de março, de um atendimento de até 40%, com a duplicação dos atuais investimentos públicos na Educação Superior.
E por ser desafiante e esperançosa, essa meta repõe sobre a mesa a temática do tempo com a qual abri a oração nessa noite.
Em horas assim, serve-nos o poeta, esse porta voz da alma humana, esse ser capaz de dizer melhor que muitos sobre a pergunta que não quer calar: que tempo é esse?
Escolho um polêmico poeta baiano, para dizer com ele:És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Acordado então está!
Muito obrigado.
Prof. José Batista Neto
Diretor do Centro de Educação/UFPE
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Diretora do CFCH, Profa. Socorro Ferraz
Vice-Diretora do CFCH, Profa. Lucinda Macedo
Srs e Sras. Chefes de Departamento e Coordenadores de Curso de graduação do CFCH
Srs e Sras. Patronos, Professores Paraninfos e homenageados das turmas dos cursos de graduação do CFCH
Prezados estudantes concluintes das turmas dos cursos de graduação do CFCH
Srs país, parentes e convidados
Minhas senhoras, meus senhores
Foi com grande alegria que recebi da Turma de concluintes do curso de História, 2009.2, esta homenagem que, de pronto, compartilho com todos os colegas docentes que atuaram para a formação daqueles/as a quem o Magnífico Reitor confere, hoje, o grau de licenciado/a e de bacharel em História pela UFPE.
No bem composto comunicado da homenagem que me foi concedida, encontrei grafada a sugestiva expressão: Tempus fugit. Para uma turma de concluintes de um curso de História, a escolha foi muito feliz. Estudiosos do tempo que são, estudantes que se preparam para servir a sociedade como historiadores ou professores de história aprendem, desde cedo, a render homenagem ao “deus” tempo, e tendo de conhecer as diversas problemáticas que envolvem os acontecimentos históricos, defrontarem-se com o debate e os desafios da construção dos conhecimentos historicamente acumulados sobre o tempo. Aprendem assim que, junto ao seu par, o espaço, o tempo é um conceito estruturante dessa área do conhecimento humano e nos permite situar o fazer histórico, constituindo-se em um dos seus marcos fundamentais. Aprendem, ainda, que o tempo não é uno, nem linear. O tempo é múltiplo e comporta simultaneidades. Compreendem então que, para além do tempo histórico, há tempos a mã cheia para muitos gostos, significados e sentidos. O tempo alude a uma realidade material, mas comporta também uma dimensão simbólica que homens e mulheres criam. Enquanto uma criação humana, há o tempo cósmico que se conta por anos-luz, há o tempo geológico que se mede por milhões de anos e há também o tempo histórico que se afere por séculos, décadas e datas. O tempo que se conta, que se mede, que se afere é o tempo cronológico, essa fantástica criação do mundo da quantificação do real que possibilitou satisfazer nosso desejo, nunca satisfeito, de tentar exercer o controle sobre a realidade que nos concerne por meio da fabricação de referências que atendem pelos nomes de anos-luz, milênio, século, ano, dia, hora, minuto, segundo....,
A contrapelo do rigor de uma métrica que a tecnologia e ciência refinam a cada momento, falamos também em tempo da existência, tempo da alegria, tempo da dor. Noções que aludem a experiências muito distintas e de distintos significados. Costumamos dizer que um fato que nos causa dor tende a ser sentido como de maior duração que um que cause alegria. O significado subverte o rigor da métrica e irrompe soberano, dizendo-nos que o tempo medido, por vezes, de nada vale diante do tempo sentido. Tempo que se mede e tempo que se sente. Tempo que se quer controlar e tempo rebelde que não se submete. Tempo que foge, tempo que escapa. Tempus fugit. Aí talvez esteja o significado da expressão latina que nomeia a turma que me homenageia. A expressão aludiria, portanto, à relação do homem, da mulher com o tempo, podendo significar que, sendo um dado humano, é expressão de uma experiência singular, de modo que, só vagamente, exercemos controle sobre o tempo, porque tempo é humanamente soberano.
Mas, afinal, que tempo é esse que vivemos? Permitam-me falar de como o vejo, falar do que ele descortina, do que ele comporta. Para isso, quero dizer logo do lugar que falo. Falo como um professor que há 32 anos, completados no próximo primeiro de abril, contribui para formar professores nesta universidade. Falo, portanto, do lugar social de uma instituição de referência para o sistema de educação superior e, em especial, para a formação de profissionais para o magistério da educação básica, com todas as responsabilidades que essa condição inspira. E não são poucas...
Permitam-me debulhar a narrativa.
Depois de anos bicudos, anos que o dramaturgo Bertolt Brecht chamaria de um “tempo sem sol”, as universidades públicas federais entraram nesta última quadra da primeira década dos anos 2000 num tempo de esperança. Passaram a conhecer um processo de expansão e reestruturação tão importante quanto aquele infeliz e tristemente imposto no final dos anos 60 do século passado. Dentro de alguns anos, o efeito distanciamento nos permitirá perceber a grandeza do que foi feito e vem sendo feito pela educação superior pública nos anos que correm. Criam-se campus, cursos, currículos novos. Expandem-se cursos já existentes e atualizam-se percursos formativos de modo a torná-los mais afeitos aos desafios da contemporaneidade. Abrem-se oportunidades para segmentos sociais, regiões e localidades antes excluídos do direito social básico da educação de qualidade. Desenvolvem-se talentos pelas mãos de docentes e técnico-administrativos, todos servidores públicos de IES federais, deixando à mostra a capacidade que tem o Estado, quando há vontade política, para responder, com qualidade social, às necessidades da sociedade e aos ditames da inclusão. Não seria demasiado dizer que as recentes medidas de políticas educacionais relativas à educação superior pública contrastam com o equívoco histórico e político praticado por forças sociais, tristes e mesquinhas forças sociais, que sistemática e didaticamente afirmaram, por mais duas décadas, a necessidade de diminuição do tamanho do Estado e a demonização dos servidores públicos, cantando a plenos pulmões e aos sete ventos as excelências do sacro santo Mercado. Erigido como paradigma da nova ordem social, esses tempos de desconstrução do Estado do Bem Estar Social e de hegemonia do indivíduo, da selvagem competição e da supremacia dos ditos mais capazes legaram, de um lado, o desapreço pelo trabalho produtivo em favor da acumulação de capital financeiro, obtida em jogatinas realizadas através de papéis que trafegam nas infoways das Tecnologias da Informação e Comunicação. Legaram, por outro lado, a dor, o sofrimento, a fome, o analfabetismo e o crescimento da Aids no continente africano. Quem semeia ventos antisolidários colhe Desesperança.
A mais recente crise mundial revelou o tamanho do equívoco, mas também a esperteza dessas mesmas forças sociais neoliberais que dirigiam o planeta quando ele quase capotou. A saída de emergência tomada foi chamar de volta o Estado, reivindicando, de pronto, o desembolso de gordas somas da poupança nacional. Doce ironia: os aiatolás do Mercado curvaram-se ao Santo Estado e, ante a sua ação estabilizadora, passaram a dizer amém! Doce ironia, estratégica ironia!
O Brasil, que já chamara o Estado de volta alguns anos antes, pode navegar em águas tão turbulentas de forma mais segura e parece fazer a travessia de modo menos traumático.
O novo impulso dado às IFES surge nesse contexto, num contexto de retomada do papel do Estado brasileiro na formulação de políticas sociais. A expansão e reestruturação de que falamos antes é um capítulo da retomada da capacidade do Estado brasileiro de realizar investimentos sociais que venham a atender às demandas da sociedade. Tais ações explicariam o novo horizonte que se coloca para nossas instituições universitárias federais e o clima de esperança que toma conta de um bom número de docentes, técnico-administrativos e estudantes. Estamos em um novo tempo e isto não pode ser visto como mero exercício de retórica, mas narrativa de coisa feita e se fazendo.
Depois de duas décadas de desesperança, abrem-se portas e janelas, descortinam-se caminhos novos, frutos de tanta luta, de tanto suor, de tanto pensar, de tanta ação solidária.
O esforço feito até aqui é, porém, insuficiente para o tamanho do desafio que temos que enfrentar para incluir jovens no ensino superior. Os últimos levantamentos apontam que o atendimento por IES a brasileiros entre 17 e 25 anos não passa de meros 13,9%. Muito longe, portanto, do que pretendeu realizar o Plano Nacional de Educação, aprovado em 2001, que apontou como meta ampliar o atendimento até alcançar a 30% dessa mesma faixa etária. Tal realidade só faz confirmar a tese sustentada por diversos cientistas sociais que afirmam o quanto as estruturas desse país são capazes de produzir injustiça, desigualdade e exclusão.
Triste realidade, desafiante realidade. Tamanho desafio fez com que as IFES, reunidas em fevereiro deste ano, aprovassem proposição para o novo PNE, discutida na CONAE 2010, no final do mês de março, de um atendimento de até 40%, com a duplicação dos atuais investimentos públicos na Educação Superior.
E por ser desafiante e esperançosa, essa meta repõe sobre a mesa a temática do tempo com a qual abri a oração nessa noite.
Em horas assim, serve-nos o poeta, esse porta voz da alma humana, esse ser capaz de dizer melhor que muitos sobre a pergunta que não quer calar: que tempo é esse?
Escolho um polêmico poeta baiano, para dizer com ele:És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Acordado então está!
Muito obrigado.
Prof. José Batista Neto
Diretor do Centro de Educação/UFPE
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