Já não é de hoje que o cinema iraniano deixou de lado aquela produção que parecia falar unicamente da situação política de seu país por analogias com crianças. Uma belíssima obra que exemplifica essa evolução vem de um de seus cineastas ícones, Abbas Kiarostami, e estreia nesta sexta (13) no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco. “Cópia Fiel” (Copie Conforme, Fra./Bel./Ita., 2010) tem na arte, e em seu reflexo para repensar a própria vida, o seu foco de questionamentos.
É um filme elegante e intrigante. Não se pode adiantar muito a seu respeito, pois as transformações pela qual passam a dupla de protagonistas e as posturas que vão assumindo lá pelo meio do filme requerem uma total liberdade de leitura do espectador. É o tipo de situação que não se explica genericamente, mas só a partir da própria carga cultural que, individualmente, cada espectador traz consigo.
De qualquer forma, a “primeira parte” de “Cópia Fiel” nos apresenta James (o barítono britânico William Shimell) e Elle (Juliette Binoche, linda e perfeita, tendo levado o prêmio de melhor atriz em Cannes 2010). Ele, inglês, está em Toscana lançando seu livro “Cópia Conforme”, uma análise sobre a obra de arte, suas cópias e o valor de cada uma delas (sem que a cópia seja necessariamente menos importante que a original).
Ela, uma francesa morando na Itália, aparentemente cria seu filho de oito anos sozinha. É o menino que insiste para que saiam da palestra de James para poder comer algo. É também o garoto que a acusa, brincando, dela estar paquerando o escritor. No outro dia, por convite de Elle, James a visita em sua loja de antiguidades e os dois saem para um café. Até chegar ao café, o casal discorre no carro, com leveza (mas profundidade), sobre questões que fazem parte da natureza do livro de James: legitimidade, autenticidade e a capacidade de enxergar ou atribuir valor a algo absolutamente desimportante ou até risível para outros olhos.
Esse assunto cresce depois numa conversa entre Elle e uma senhora que lhe serve café, mas deslocando o foco do objeto de arte para as relações afetivas, abrindo o filme, daí, para a tal nova dimensão quase indecifrável. Mas, diga-se, uma dimensão “maestralmente” conduzida pela mão (tanto a que escreveu o roteiro, quanto a que dirigiu o filme) de Kiarostami, além da performance sutil dos atores.
A princípio, “Cópia Fiel” parece ter como forte interesse destacar a necessidade de relativizar a importância das coisas da vida, mesmo porque, o que vale aqui, pode não valer ali. Não por acaso, o filme é falado em inglês, francês e italiano, sendo Elle, a mulher, a única que consegue alcançar todos os significados para, no final, ser deixada pelo homem, que precisa voltar à realidade. Perfeito.
Da Folha de Pernambuco
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