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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

DOCUMENTO: Discurso do Reitor Anísio Brasileiro na sua posse na UFPE, 11 out. 2011


 
A UNIVERSIDADE ATRAVÉS DOS TEMPOS
DESAFIOS PARA UMA UFPE CONTEMPORÂNEA

AGRADECIMENTOS

Recebo com grande honra e senso de responsabilidade as atribuições de conduzir a UFPE, nos próximos quatro anos, juntamente com Silvio Marques e uma equipe coesa, solidária e motivada. Essa atribuição resulta da confiança que o campus depositou em nosso Programa, que tratou de consolidar os grandes avanços do Reitorado Amaro Lins e Gilson Edmar, ao mesmo tempo em que nos incentivou a inovar em busca de uma Universidade pública cada vez mais inserida no desenvolvimento social do Brasil.
Tenho convicção que esse Programa vitorioso resulta, certamente, do apoio e reconhecimento do trabalho do Reitor Amaro Lins e sua equipe, a quem tive a honra de servir como seu Pró-Reitor de Extensão e de Pesquisa e Pós-Graduação. Reitor e amigo Amaro. Serei sempre grato pelo que aprendi consigo. Tenho profunda admiração pelo seu espírito público. Espero contar sempre com sua experiência nas definições estratégicas para a UFPE.
Certamente estamos aqui por que tivemos a felicidade e capacidade de saber por em prática o projeto do Presidente Lula que, em oito anos, transformou a educação brasileira e, em definitivo, colocou a Universidade no patamar que ela deve ocupar, de produtora de conhecimento científico para transformar a Sociedade com vistas à melhoria da qualidade de vida do nosso povo. Da mesma forma, estamos contentes e esperançosos com a Presidente Dilma Roussef que vem mostrando a sua prioridade estratégica para a Educação e a Ciência, Tecnologia e Inovação, a exemplo do Programa Ciência sem Fronteiras que possibilitará maior internacionalização da pesquisa brasileira.
Nossos reconhecimentos ao Senhor Ministro da Educação, Professor Fernando  Haddad e sua equipe, pelo seu excelente trabalho à frente do Ministério da  Educação, pela sua coragem com o REUNI e permanente apoio à UFPE.
Dentre essas ações, é fundamental ressaltar a importância estratégica do ENEM, tanto para o fortalecimento do sistema nacional de educação superior pública, gratuita, de qualidade, quanto para a mobilidade nacional estudantil, para a identidade do País, e para o reforço da educação básica. A UFPE tem em muito contribuído para o sucesso do ENEM e suas decisões sempre se pautarão pela defesa do sistema nacional de educação que tem no MEC seu condutor maior.

A UNIVERSIDADE ATRAVÉS DOS TEMPOS

O nosso Programa tem como eixo central, o fortalecimento permanente das relações entre a Universidade e a Sociedade. Bem sabemos que a Universidade existe no longo prazo. Ela responde aos desafios de cada momento histórico. E ocupa função estratégica na geração e inovação do conhecimento.
Tem sido assim desde suas origens quando, a partir das escolas monásticas e catédrales, do século XI, elas se constituem no inicio do século XII, em Paris, Oxford, Cambridge, Padua e Bologne. Sua autonomia e especificidade se desenham com a associação de estudantes, processos de seleção, regulamentos, exames, diplomas, contratação de professores em áreas da Medicina, Direito, Filosofia e nas artes liberais. Elas são também herdeiras das ciências gregas e da cultura do mundo árabe (Charle e Verger, 1994).
Na chamada época moderna, dos séculos XV a XVIII, as Universidades se consolidam, assumem caráter nacional no contexto da formação dos Estados nacionais e da dinamização das cidades, com a emergência das profissões liberais, sendo necessário formar novos profissionais para impulsionar o desenvolvimento.
Ao saber universitário se associam outros saberes sociais, com a expansão das academias e sociedades técnicas de engenharia e cirurgia, decorrentes dos avanços das ciências e das teorias de Isaac Newton, Lavoisier, e da matemática, química, física, geologia e medicina.
Tal é o caso da Royal Society (1660) em Londres, da Academie Royale des Sciences (1666) em Paris (Oliveira, 2005, p. 92). E ainda, nos séculos seguintes, dos laboratórios particulares de pesquisa aplicada, como os de Cavendish, Joule e Thomas Edson. São homens práticos das ciências que vão criar os sistemas de bombeamento de águas, os instrumentos de navegação, o termômetro, o calorímetro e a luz elétrica, além da máquina a vapor, que iriam impulsionar as revoluções industriais dos séculos XVIII e XIX. Isso, em paralelo, ao avanço das ciências biológicas, nas áreas de zoologia, fisiologia dos animais e plantas, além dos estudos sobre o comportamento humano, com a Psicologia, a Sociologia e a Economia política de Adam Smith.
É, assim, no contexto da revolução industrial que vai se caracterizar a Universidade, enquanto local privilegiado para a pesquisa científica. Isso, à partir dos estudos de Shelling na Alemanha, quando ele apresenta, em 1802, suas famosas “Preleções sobre o método do estudo acadêmico” (Barbosa, 2010, Page 12). Surge daí a idéia da “formação pela ciência” de uma “filosofia universitária”, da “natureza das tarefas da Universidade”. Breve, do “espírito” da universidade. Esses conceitos se concretizam com a criação da Universidade de Berlim, em 1810, por Wilhem Von Humboldt, com suas estruturas institucionais, liberdade acadêmica e unidade do ensino e da pesquisa.
Nasce, portanto, a Universidade Moderna, de pesquisa e pós-graduação, de vida ainda recente, como bem mostra a criação do primeiro doutorado, em 1861, em Yale, nos Estados Unidos. Muito embora, deva-se sempre lembrar que, nas Américas, sempre existiu uma cultura social desde as sociedades précolombianas do Peru e do México, que ainda hoje resiste ao tempo.
No Brasil, como bem mostra Oliveira (2005, p.88), pode-se dizer que é com o Seminário de Olinda, fundado em 1798, que se caracteriza o ensino de ciências, com a oferta de teologia, filosofia, geometria, desenho e física.
Embora, já se tenha criado, sob a inspiração do Marquês de Pombal, em 1771, a Academia Científica do Rio de Janeiro. Nos anos 1800, muitas invenções já ocorrem no Brasil, a exemplo da “máquina de ensacar e enfardar o algodão” e “maquina de descascar arroz” além de um curso de Agricultura, na Bahia, em 1812 (Oliveira, 2005, p. 112 e 134).
É nesse contexto, de efervescência da cultura urbana do século XIX, que vai ser criada, em 1827, a Faculdade de Direito do Recife, nossa famosa FDR, precursora da UFPE, da qual muito nos orgulhamos e, nas décadas seguintes, as Escolas de Engenharia (1895), Farmácia (1900), Faculdades de Odontologia, Medicina (1920), Escola de Belas Artes (1932) e a Faculdade de Filosofia do Recife (1940). É dos anos 1920 em diante, época de grandes transformações urbanas e culturais, que vão se constituir as primeiras Universidades brasileiras, como a Universidade do Rio de Janeiro (1920) e Universidade de São Paulo (1934). E surge a UFPE, em 1946, resultado do agrupamento das Escolas e Faculdades então existentes, respondendo aos desafios da época, tendo à frente Joaquim Amazonas, um Reitor visionário.
Gostaria, aqui, de registrar o enorme esforço de tantos que fizeram e fazem a UFPE, no sentido de preservar suas memórias para que, estudantes, servidores técnicos e docentes e a Sociedade em geral, possam ter acesso à história da UFPE, instituição que orgulha o Brasil, pela excelência das suas pesquisas e projetos de extensão, além da reconhecida qualidade da sua graduação e pós-graduação.
Cabe, em especial, enfatizar a prioridade ao projeto Memórias, concedida pelo Reitor Amaro Lins que, através de suas Pró-Reitorias, em particular a de Extensão, e de unidades como a Editora Universitária, apoiaram pesquisadores para a publicação de teses, dissertações, livros e painéis sobre a UFPE.
Exemplo particular desse trabalho foi a publicação recente de mais um número da Revista Estudos Universitários, com foco nas memórias, acervos, museus e coleções da instituição. Além da reinauguração do famoso salão nobre da Faculdade de Direito, bem como a bem construída mostra de fotografias, ora instalada no hall da Reitoria.
São, portanto, essas memórias e registros históricos que mostram, nas  décadas seguintes à sua criação, o compromisso da UFPE para com a Sociedade, contribuindo através do trabalho de seus profissionais para um projeto de educação enquanto política de Estado, que permita em definitivo a inclusão social e a diminuição das desigualdades em nosso País.
Foi justamente essa a marca do reitorado Amaro Lins que, ao expandir a UFPE para o interior, Caruaru e Vitória, pôde possibilitar que mais de 5000 estudantes possam ter acesso, hoje, a uma formação de tão boa qualidade quanto a de Recife. Os números da UFPE mostram a força de uma instituição comprometida com as transformações sociais.
Somos cerca de 45 mil pessoas, dos quais 28.688 estudantes de graduação, 5.850 de pós-graduação, em três campi com 12 unidades acadêmicas, com 2.366 docentes, mais de 70% com o título de doutor, 3.893 servidores técnicoadministrativos, que gerenciam uma complexa estrutura organizacional, ofertando 93 cursos de graduação, 03 de graduação à distância, 116 cursos de pós-graduação stricto sensu, 64 cursos de especialização, cerca de 480 grupos de pesquisa, responsáveis por projetos estruturadores financiados por Ministérios e organismos de pesquisa.
Hoje, nosso maior desafio é consolidar os avanços dos oito anos recentes, e que são também herdeiros de esforços de reitorados anteriores, de modo que é toda uma história de dedicação de tantos, que devemos preservar e inovar.

PLANO DE AÇÃO

Nosso plano de ação se volta para a prioridade à formação de qualidade para nossos estudantes, na graduação e pós-graduação. O cuidado com os estudantes será nosso foco. Estaremos atentos e solidários às suas aspirações, necessidade e anseios. Trabalharemos para reduzir cada vez mais as taxas de retenção e evasão, continuando a praticar ações com vistas à maior equidade, acesso e permanência dos jovens na Universidade. Por isso, o Conselho Universitário aprovou, recentemente, nossa proposta de criação da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis que, com recursos do Ministério da Educação através do Plano Nacional de Assistência Estudantil – PNAES – e da Ciência e Tecnologia, através dos editais do CNPq, saberá cuidar dos estudantes, tanto de graduação quanto de pós-graduação. Sempre em articulação com demais unidades da Administração central e dos campi.
Continuaremos também a trabalhar reformas pedagógicas inovadoras que incorporem os avanços das tecnologias de comunicação e informação e que contribuam para uma formação cidadã para nossos estudantes. Daí a importância da valorização da formação de professores.
Queremos estabelecer uma agenda de trabalho com as Licenciaturas da UFPE, com os Centros de Educação, Exatas, Biológicas, Humanas e Artes, com o Colégio de Aplicação, com os governos federal, estadual e municipais.
Com os colégios particulares. Para que a UFPE, com os instrumentos e projetos existentes possa contribuir junto aos governos para valorizar a nobre função do professor, melhorando suas condições de trabalho, seus salários, sua saúde. De modo que a Sociedade compreenda que um País só é realmente justo e democrático quando seus professores, em todos os níveis,  ocupam lugar um estratégico.
A humanização dos campi, com uma segurança institucional cada vez mais qualificada, com espaços coletivos bem cuidados, iluminados, com a conclusão  das muitas obras físicas em andamento, juntamente com a priorização de outras, terão uma prioridade em nossa gestão.
A Universidade pública é o local privilegiado da pesquisa em áreas
estratégicas para o Brasil. Continuaremos a trabalhar com o Governo de Pernambuco, juntamente com a Prefeitura do Recife e demais municípios do Estado. Fortaleceremos projetos de pesquisa em redes, em áreas estratégicas de: i)petróleo, ii)ciências exatas e materiais, iii)biotecnologia, iv)fármacos e  medicamentos, v)informática, vi)economias criativas (moda, animação, cinema, música), vii)pesquisa clínica, viii)genética, ix)informação e comunicação, x)esportes, xi)formação docente, xii)direitos humanos.
Estaremos sempre atentos ao equilíbrio entre áreas do conhecimento, tendo consciência da necessidade de recursos públicos crescentes para as áreas de humanas e sociais, fundamentais que são para a construção da cidadania brasileira. Atenção especial será dada ao Hospital Universitário, inserido em um projeto saúde-UFPE, onde suas atividades de formação, pesquisa e assistência possam ser cada vez mais qualificadas.
Assim, seremos sempre defensores de nosso original e bem-sucedido Sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação que, através da CAPES, CNPq, Finep, das fundações locais de pesquisa como a nossa FACEPE, das Fundações de Apoio ao Desenvolvimento das Universidades, como a nossa FADE, que contribuem para o avanço do conhecimento e o progresso social.
Devemos, portanto, fomentar a articulação com os atores locais e nacionais, empresas públicas assim como empresas privadas, em áreas estratégicas para o Brasil, contribuindo para a inovação de seus produtos e processos, juntamente com organizações sociais atuando junto às comunidades. De modo que a Sociedade civil se fortaleça através do conhecimento e de sua transformação via inovação.
A Universidade é uma instituição com valores próprios, onde o estado de espírito e a valorização das pessoas é a razão do seu sucesso. Estaremos atentos aos nossos servidores técnico-administrativos e docentes, cuidando da sua qualificação, da melhoria de suas condições de trabalho, de saúde e salariais, valorizando suas iniciativas e decisões, fomentando a formação de equipes solidárias e plurais. Estaremos atuando junto à ANDIFES, nas Comissões de Recursos Humanos e de Pesquisa, e em articulação com os Sindicatos nacionais de servidores técnico-administrativos e docentes, para que possamos defender junto aos Ministérios de tutela os interesses da comunidade universitária.
A Universidade brasileira e a UFPE, em particular, tem se tornado cada vez mais complexa. O seu planejamento e gestão administrativa exigem o aporte de inovações ligadas à gestão do conhecimento, com o uso de plataformas tecnológicas e organizacionais para dar mais fluidez aos processos e procedimentos, tornando as decisões mais ágeis e rápidas, descentralizadas, de modo que possamos deslocar cada vez mais o esforço do trabalho para o planejamento e prospecção sobre o futuro da Universidade e suas relações com a Sociedade.
Se o conhecimento hoje é globalizado, a sua interiorização e o seu acesso aos jovens do interior é uma necessidade. Para isso, será fortalecida nossa cooperação e integração com redes de instituições de pesquisa e de ensino estadual, regional, nacional e internacional. A mobilidade estudantil e de pesquisadores, ampliada e estimulada, para que possamos fomentar o internacionalismo acadêmico.
A cultura, o respeito á diversidade, o fomento à multiplicidade de formas de ver o mundo, e o combate a todos os tipos de preconceito estará presente em nossas políticas. O conhecimento solidário, o aprendizado e a integração com a América Latina e África terão todo nosso apoio.
Nesse processo de interação com atores internos e externos à Universidade, é estratégico a formulação e implementação de uma política institucional de informação e comunicação que articule e integre organismos como as Rádios e Televisão, Bibliotecas, Editora, Assessoria de Comunicação, Centro de Convenções, Núcleo de Tecnologias da Informação que, com suas especificidades e políticas bem definidas, compõem um precioso sistema de Informação e Comunicação de uma Universidade Pública.
Por fim, energias consideráveis serão usadas para a elaboração de um novo Estatuto, a ser construído de forma participativa e democrática, que responda aos desafios atuais com vistas ao aperfeiçoamento de uma gestão mais descentralizada e eficiente da instituição, e que permita o fortalecimento de um pacto institucional em defesa da Universidade pública, de qualidade, democrática e referenciada socialmente.
Da mesma forma que faremos atenção à descentralização das políticas e decisões, fomentaremos a constituição de conselhos gestores para legitimar decisões institucionais e trabalharemos para fortalecer os fóruns da Universidade, a exemplo das chefias, coordenações e diretorias das unidades acadêmicas, sempre respeitando sua autonomia e a dos diretórios acadêmicos e sindicatos locais.
Defendemos, portanto, a UFPE como uma Universidade do conhecimento, da cultura, da pesquisa, da tolerância, da inclusão social, articuladora de disciplinas e campos de saberes, impulsionadora da integração entre países e povos, no contexto de um projeto maior de desenvolvimento econômico e ambiental justo e sustentável.
É a esse projeto que nos dedicaremos intensamente. Que usaremos todas as nossas energias. Ao concluir essas palavras quero expressar mais uma vez os agradecimentos, em meu nome e do professor Silvio Romero Marques, a todos que dedicaram e dedicam suas vidas à nossa UFPE, instituição de referência e querida por todos.
Muito obrigado e que Deus ilumine a todos nós, nessa caminhada.

Anísio Brasileiro de Freitas Dourado

Recife, 11 de outubro de 2011

Fontes Bibliográficas

Barbosa R (2010) A formação pela Ciência. Schelling e a idéia de universidade, Ed. Uerj, Rio de Janeiro

Carvalho J.M (2007) D. Pedro II, Companhia das Letras, Rio de Janeiro

Charle C. e Verger J. (1994, Histoire des Universités, PUF, Paris

Oliveira J.C (2005) (D. João VI. Adorador do Deus das Ciências ? e-papers, Rio de Janeiro



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