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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MATÉRIA: Militância

FONTE: http://www.ondajovem.com.br/militancia


Militância

13/12/2011
Jovens filiados a organizações políticas contam experiências da ação partidária.
"O que pensam as juventudes partidárias?” Nada melhor do que propor o questionamento aos próprios jovens filiados a partidos políticos. Para isso, a equipe da Adital Jovem aproveitou a presença de juventudes de vários partidos na 2ª Conferência Nacional de Juventude para fazer a pergunta a filiados de algumas organizações partidárias.
Um deles foi Darcy Vieira Gomes, secretário-geral da juventude socialista do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e membro do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) representando a juventude partidária.
Atualmente com 30 anos de idade, Darcy afirma que se filiou ao partido em 2002. Antes, participou de movimentos de estudantes, como grêmios. Para ele, a escolha pelo PDT partiu da proximidade dos anseios de transformação do mundo, além de se identificar com a história política e de luta de Leonel Brizola, uma das lideranças do partido.
"A nossa organização se baseia em três princípios que movem o nosso pensamento, a nossa postura ideológica, que é a questão da educação, do trabalho e da soberania nacional. Então, a juventude socialista do PDT entende que a melhor forma de preparar a nossa juventude para um futuro melhor, para contribuir com o desenvolvimento do país é com uma escola integral”, destaca, lembrando a importância de uma escola inclusiva, atrativa, e com esportes, sendo um espaço de convivência e de formação.
O movimento estudantil também foi a entrada de Ana Cristina Silva, conhecida por "Joelma”, nas organizações partidárias. Integrante da União da Juventude Socialista (UJS) desde 2008, Cristina se filiou neste ano ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Aos 22 anos, a jovem, além de presidente da UJS de Cubatão (SP), é secretária de organização do partido no município.
"No momento em que me filiei, foi porque eu me identificava, mas não me identificava só com uma política de partido, mas com todo um ideal, você saber que você pode implantar políticas públicas para um país (...) Eu vejo que ser um jovem comunista não é ser um jovem rebelde, é ser um jovem que ousa, que luta e tenta vencer”, afirma.
Diversidade na luta
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) entrou cedo na vida de Márcio Carvalho. Coordenador pedagógico nacional do curso de política para a juventude da Fundação Ulysses Guimarães e vice-presidente da Fundação no Paraná, Márcio, hoje com 33 anos de idade, milita no partido desde os 14, motivado pelos movimentos estudantis e manifestações sociais. Participou, por exemplo, de manifestações como a que resultou no impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992, e de campanhas em defesa da Vale do Rio Doce, entre outras.
"O legal de ser partido é porque, no movimento estudantil, por exemplo, eu estava ali pela educação, eu era estudante. No partido, eu luto pela educação, pela saúde, pelo meio ambiente, pelas mulheres, pelos negros, pelos deficientes, pelas minorias”, ressalta, destacando que a ideia do PMDB para a juventude é incluir os jovens no projeto de desenvolvimento nacional, ou seja, incluir a juventude com educação, qualificação profissional e oportunidades.
Militante desde 1997 no Partido dos Trabalhadores (PT), Henrique Donin, hoje com 29 anos, é secretário de finanças do partido em Niterói (RJ). Assim como os outros, Henrique ingressou na militância partidária a partir do movimento estudantil. Para ele, é importante que o jovem se integre aos partidos políticos, pois é "a política partidária que define os rumos”. "Você nunca vai conseguir nada se não estiver dentro das estruturas”, acredita.
Em relação às demandas dos jovens do PT, Henrique aponta que elas estão de acordo com as reivindicações da sociedade. "O PT, por ser um partido muito amplo, um partido que tem entrada em muitos movimentos sociais, as demandas são muitas. A Conferência da Juventude é uma grande vitória da juventude brasileira porque é um espaço de decisão, de políticas de verdade, onde a gente tem a condição de pautar o que a gente pensa”, comenta, destacando algumas demandas da juventude, como emancipação, educação de qualidade, formação profissional, entre outras.
Política e vida
Um estudo feito para a tese de doutorado “Militância de jovens em partidos políticos”, defendida por Ana Karina Brenner, da Faculdade de Educação (FE) da USP, expôs a realidade dos jovens dentro do cenário da política nacional. A análise mostrou que a militância está presente em todos os segmentos da vida dessas pessoas.
Segundo a pesquisadora, que entrevistou 25 jovens de cinco partidos diferentes, ainda que não se portem à maneira dos jovens da década de 1960, que abdicavam de tudo pela luta política e hoje seja mantido um mínimo distanciamento entre a vida pessoal e partidária, a escolha de prioridades dos militantes sempre passa pelo ativismo.
Ana Karina queria entender em seu estudo como a atuação política se reflete nos demais aspectos da vida desses jovens e em suas relações afetivas, familiares e nas suas escolhas profissionais.
Muitos entrevistados disseram que o estudo é prejudicado pelo tempo dispensado ao partido. A relação com os pais pode se fragilizar nesse sentido, pois eles não entendem a mudança do foco de dedicação dos filhos. As relações interpessoais passam a ser, basicamente, o círculo social formado dentro do partido.
Ana ainda ressalta que alguns jovens chegaram a dizer que só conseguiriam estabelecer relacionamentos amorosos com membros do partido, pois as diferenças no estilo de vida entre um militante e um não-militante impediriam que uma união sólida se estabelecesse.
O estudo de Ana constatou também que os jovens são vistos como aqueles que vão fazer o partido no futuro. Mas há uma enorme dificuldade de serem ouvidos, pois geralmente são apenas consultados como realizadores de tarefas e não formuladores. Contudo, existe um forte desejo por parte deles de receberem maior consideração dentro do grupo, tendo espaço para expandir suas ideias já no tempo presente.
Especificidades
A militância política, verificou a pesquisadora, é uma prática tradicional dos partidos de esquerda. Partidos de direita encontram núcleos organizados, segundo os jovens entrevistados por Ana, apenas em universidades privadas.
No grupo pesquisado, havia uma parcela muito maior de homens. “Uma questão de gênero já se mostrou pronta para ser abordada”, destacou Ana, que foi equilibrar sua análise buscando mulheres que também participassem ativamente da vida política. Sobre a disparidade de sexos na luta estudantil militante, a pesquisadora encontrou contraposição de respostas: os homens disseram que a situação lhes parecia quase resolvida e ainda surpreenderam-se com o fato de as mulheres acharem que a questão é presente e é difícil.
O engajamento político traz novas experiências para os jovens, que conhecem novas cidades, novas pessoas e aumentam seu capital cultural. A separação da vida pessoal e da vida partidária ainda consiste em uma linha muito tênue, mas que, cada vez mais, tenta ser traçada.
“Precisamos de mais estudos sobre os militantes, que analisem o que acontecerá daqui pra frente. Esse campo é pouco explorado no País e necessita de mais literatura, para que possamos entender mais aspectos da iniciação na nossa vida política”, conclui a pesquisadora.
Fonte: Adital / Agência USP
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