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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PESQUISA: Estudo acompanha percalços do aluno da escola pública na universidade

FONTE: http://www.ondajovem.com.br/noticias/estudo-acompanha-percalcos-do-aluno-da-escola-publica-na-universidade

02/11/2011
A professora Valéria Cordeiro Fernandes Belletati avaliou em uma pesquisa para a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) os fatores considerados mais difíceis para os alunos da escola pública se darem bem no ensino superior. Ela acompanhou universitários oriundos do ensino médio público que ingressaram, em 2009, em cursos da USP nas áreas de ciências exatas, biológicas e humanas. Os estudantes frequentam os cursos de Física, Biologia e Letras da USP e suas principais dificuldades, constatou a pesquisadora, estão relacionadas ao gerenciamento do tempo, às avaliações aplicadas e aos conteúdos das aulas, estes últimos considerados por eles como muito mais complexos do que a base oferecida no cursinho ou na escola que os preparou para entrar na universidade.
Outros problemas, segundo a professora, são dificuldades de relacionamento entre os alunos e deles com os professores. A falta de espaços para socialização em algumas unidades do campus interfere no primeiro caso. No segundo, os jovens apontaram distanciamento dos professores. “Os professores não são acessíveis fora do horário de aula. Muitas vezes os graduandos recorrem a mestrandos e doutorandos na função de plantonista”, explica a pesquisadora, acrescentando que muitos estudantes consideram positiva essa intervenção dos monitores. No entanto, avalia Valéria, “a interação dos professores com os alunos é fundamental para que a aula seja direcionada conforme as necessidades destes alunos.”

Aproveitamento

Para a pesquisa, a professora fez contatos com 40 alunos ingressantes na USP para saber quais as principais dificuldades encontradas, como eles avaliavam o início das aulas, organizavam o currículo, se sabiam como obter bolsas e auxílios e se conseguiam aproveitar o ambiente universitário. “Muitos trabalhavam e não conseguiam realizar todas as tarefas. Outros gastavam até três horas por dia em locomoção para chegar à USP e voltar para casa, além de simplesmente não conseguirem se organizar”, afirma Valéria.
Os estudantes também comentaram a dificuldade de se prepararem bem para as provas. Segundo Valéria, eles continuam com dúvidas sobre o conteúdo mesmo após a avaliação ou não entendem o que é pedido. “Saíam-se bem nas aulas e mal nas provas. Isto acontece porque na universidade os professores veem a prova como classificação, elas não são utilizadas como diagnóstico das dificuldades dos alunos, para que o professor possa elaborar melhor a continuação das aulas, nem favorecem a adoção de um enfoque profundo de aprendizagem pelo aluno ingressante.”
No aprendizado dos alunos interfere a bagagem do ensino médio. Eles consideraram os conteúdos das aulas na faculdade muito mais complexos em comparação com a base aprendida na escola ou no cursinho. “Pode-se afirmar que o ensino médio, neste caso, é insuficiente para a continuação dos estudos na faculdade. Isto não significa que os alunos desejem reduzir a complexidade dos conteúdos. Para além de uma crítica com relação ao ensino básico, temos que repensar como a didática na universidade pode contribuir para minimizar o problema”, diz Valéria.
Em 2010, a pesquisadora voltou a conversar com dez dos alunos para ver se no segundo ano de universidade as dificuldades persistiam. “A universidade não os ajuda a diferenciar ensino médio de ensino superior, cujas finalidades são de formação técnica, científica e política. Os alunos também não reavaliavam o percurso curricular nem reduziam a carga horária, sentindo a obrigação de seguir a previsão fornecida pela instituição. O que conta muito para os alunos vencerem as dificuldades são as características pessoais. Os mais ativos, extrovertidos, com experiência anterior em universidades e com mais iniciativa são os que têm mais facilidade”, explica a autora.
Perguntados sobre como tentavam superar os problemas, nenhum aluno apontou o professor como suporte. “Eles buscam ajuda de amigos, colegas de sala, na internet, na biblioteca ou com monitores.” Segundo Valéria, os professores precisam atentar ao perfil dos alunos e devem aproximar-se mais deles. “Os docentes não têm formação pedagógica, mas deveriam ter. Ele precisa discutir e refletir sobre a função da universidade e conhecer individualmente os alunos, suas dificuldades.”

Bola pra frente

Apesar dos problemas, segundo a pesquisadora, todos os alunos se consideram vencedores por estarem estudando na USP. “Nem sempre as dificuldades são superadas. No segundo ano de universidade alguns dos entrevistados já apresentam notas baixas e reprovações. Mesmo assim, consideravam-se vencedores e não cogitavam abandonar o curso.”
A conclusão do trabalho traz indicações da necessidade de formação contínua dos professores universitários: “Não existe uma cultura de trabalho coletivo entre os docentes do ensino superior que não têm formação pedagógica, mas deveriam ter. Eles precisam discutir e refletir sobre a função da universidade e conhecer individualmente os alunos, suas dificuldades”, afirma a pesquisadora.

Fonte: Agência USP
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