Desde o dia 08 de novembro a mídia apresenta cotidianamente notas sobre a mobilização estudantil no campus da USP. Por este meio, a mídia constrói realidade na medida em que veicula fatos e acontecimentos, constrói, através de suas narrativas, dicotomias e verdades que passam a ganhar existência no cotidiano. No caso da USP, reiteradamente, tais dicotomias, compromissadas em constituir no bem e no mal, mocinhos e bandidos, sugerem certa invisibilidade das relações de força implicadas em tais formas de exercer governo, optando-se por uma criminalização e legitimação da violência contra estudantes e a autonomia da comunidade universitária, descartando sua historicidade.
As cenas de violência contra os manifestantes acendem um debate mais que necessário sobre o contexto da Educação, das Políticas Públicas e do Estado no Brasil. Com esta explosão em guerra provocada pelo poder reacionário da polícia, direitos constitucionais foram feridos, fazendo valer o dispositivo da ordem em tempo de “Ditadura”. Lamentável os gritos, as bombas, as prisões, os ferimentos, a tropa de choque em nome da “Democracia”. Na USP, foram 73 estudantes presos aprendendo a aula de “Democracia” proposta pelo atual governador do estado Geraldo Alckmim, que em declaração pública à impressa criminalizou o ato estudantil e a ocupação do prédio da reitoria (ocupada desde o dia 02 de novembro).
A ocupação da reitoria pelos estudantes teve como pauta central o cancelamento do convênio assinado com a Polícia Militar, após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, assassinado dentro do campus em 18 de maio deste ano, tornando-a responsável pela patrulha e segurança no campus; que desde então tem sido presença constante abordando, revistando, oprimindo professores, funcionários e estudantes, buscando desesperadamente justificar sua ação. Importante ressaltar a forma arbitrária com que este convênio fora proposto, sem consulta à comunidade acadêmica, ou mesmo sem pensar outras formas de construir segurança no campus rediscutindo o projeto urbanístico da Universidade, tais como, melhora da iluminação das vias do campus e a abertura da USP à comunidade externa, melhorando a circulação de pessoas.
Esta negociação não é exclusiva da USP, outras universidades no país têm sido ocupadas pelo poder repressivo da Polícia que tenta silenciar a luta de estudantes e trabalhadores com o discurso de combater a criminalidade, como na Universidade Federal de Rondônia (Unir), que vem sendo pouco noticiada pelos meios de comunicação e que está em greve desde o dia 14 de setembro deste ano.
Na Unir as denúncias de uso de recurso público que levaram a uma precarização das condições de trabalho de professores, os atos de violência contra professores e estudantes do movimento grevista devem ser considerados pela sociedade, no sentido de que possamos rediscutir os rumos da Universidade e a garantia de uma educação de qualidade.
Os efeitos das bombas em São Paulo e da violência deflagrada aos estudantes e professores da UNIR, trazem ao primeiro plano o caos: da precarização das condições de trabalho, baixo salário dos trabalhadores, mercantilização da educação com a dissolução da tríade ensino-pesquisa-extensão, a baixa oferta de vagas e diminuição da contratação de professores aos cortes de recursos e financiamento para a assistência estudantil.
Desta forma, a Associação Brasileira de Psicologia Social vem apoiar todos e todas que estiveram presentes nos dias da ocupação da reitoria, nos atos públicos, nas praças e ruas de São Paulo, bem como aos professores e estudantes da Unir que vem sofrendo uma série de retaliações aos seus direitos de trabalho e de manifestação por melhoria de condições daquela Universidade. Em especial, solidarizamo-nos com os 73 estudantes da USP que foram presos de forma arbitrária pela PM.
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