Véspera da celebração da proclamação da República: são muitos os que celebram tal momento em um longo feriado. A coisa pública, essa que teria sido arrancada das poderosas mãos da aristocracia pelos ventos revolucionários que varriam a Europa no século XIX, de modo a por o debate sobre a utilização do poder em benefício de um maior número possível de pessoas que formam uma sociedade política, vieram a soprar também no Largo de Santana, no Rio de Janeiro, afastando um imperador com vocação burguesa, comandante de uma oligarquia semi letrada que se julgava aristocrata. O poder deveria ir para o povo de onde, teoricamente, provem nas repúblicas. Em nossas escolas pouco tempo é dedicado para o debate desse momento e, quando feito, tem o dom de realçar a ausência das massas no evento que ocorreu no dia 15 de novembro de 1889. Vê-se a história como um fato dado, um acontecimento, não um projeto social.
Houve um golpe civil-militar, o primeiro de vários desde então, que dispensou simultaneamente a “aristocracia” e o povo. Mas a história não é apenas o acontecimento, ela é a construção material de alguns sonhos, quase sempre em choque entre si. É o que nos mostram os escritos literários do início do século XX, os conflitos sociais do final do século XX e de suas primeiras décadas. A República vem sendo construída e, como os golpistas não possuíam claros objetivos nem alianças nos muitos espaços sociais, assistiram o retorno dos barões e conselheiros do Império a manter o tom oligárquico e patrimonial da jovem república. Parecia que ocorreu a troca de seis por meia dúzia. Contudo, por mais que certos grupos desejem, a história não se faz apenas nos escritórios, salas de jantares e clubes elegantes. Nas ruas das cidades, nas encruzilhadas das estradas, nos terreiros, embaixo das mangueiras, jaqueiras, jambozeiros, sem pedir permissão, aqueles que não foram convidados para as conversas pré-golpe, começaram a construir a República com o que aprenderam observando o mundo ao seu redor. O império e República não pensaram escolas, hospitais, reconhecimento do trabalho para o povo; o que faziam o Império e estavam fazendo a República desejavam uma nação sem povo. Como não havia escolas para o povo, ele inventou as escolas de samba; como não havia escola de música para o povo, ele inventou o maracatu de orquestra; como os salões de baile estavam repletos de oligarcas, eles transformaram as ruas em palco para as apresentações de suas genialidades. Demorou alguns anos para que se entendesse que nas ruas estavam sendo criadas as tradições brasileiras. Ainda tem que não queira entender que o que vemos é criatividade de um povo novo, como nos ensina Darcy Ribeiro, e não transplante de tradições, sejam elas européias ou africanas.
A República é a invenção do povo, é o povo que se re-inventa. Entretanto, vez por outra aparecem golpistas que tentam tomar para seus grupos, o que vem sendo gestado com tanta garra e disposição pelos brasileiros.
Neste 15 de novembro de 2011, quero dizer, acintosamente que o Brasil é um Povo Novo, um povo que está criando sua cidadania, ciente de que sempre que algum poderoso que fazer acordo de amizade (companheirismo, camaradagem) com os mais fracos, quem perde é a cidadania.
Neste 15 de novembro de 2011, quero dizer, acintosamente que o Brasil é um Povo Novo, um povo que está criando sua cidadania, ciente de que sempre que algum poderoso que fazer acordo de amizade (companheirismo, camaradagem) com os mais fracos, quem perde é a cidadania.
VIVA A REPÚBLICA
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