Publicado no jornal A Tarde de hoje (1º)
Ao longo dos últimos dias, "indignados" de várias partes do mundo foram às ruas, organizados através das chamadas redes sociais, como o Orkut, Facebook, Twitter e todos aqueles sites que possibilitam às pessoas contato entre si, mesmo distantes fisicamente.
Indignados foi a autodenominação dos ativistas de todo o mundo que lutam nas redes e nas ruas por mudanças no planeta. Estes movimentos ativistas têm mobilizado o mundo em defesa das liberdades e estão pautando as discussões contemporâneas, trazendo profundas reflexões - e modificações - no comportamento de jovens e adultos e, quiça, de políticos e governantes.
As manifestações são de toda natureza. A chamada Primavera Árabe, que derrubou ditadores da Tunísia e do Egito e foi analisada em recente estudo de pesquisadores da Universidade de Washington, mostrou a forte influência do uso intenso das chamadas redes sociais na organização daquele movimento. Isso também vem acontecendo na Síria, Líbia, Grécia, entre outros.
Este ativismo tem aglutinado todas as maltas de gente e motivações políticas. Passam por protestos contra a corrupção, pela derrubada de ditadores, pelo fim da ciranda financeira que tem afetado drasticamente a Europa, Estados Unidos e que, agora, amedronta todo o mundo. No Brasil, começam a surgir essas manifestações ali e acolá. Essas lutas passam também por outras importantes batalhas, como as relativas ao Marco Civil da Internet - que já está no Congresso -, a necessária e urgente Reforma da Lei de Direito Autoral - que o MinC não manda para o Congresso! -, contra a proposta da lei Azeredo (chamada de AI5 Digital) e pelo aumento de recursos para a educação, com a campanha dos 10% do PIB.
Um conjunto de lutas, mensagens e articulações que busca, em última instância, mobilizar a população em torno da possibilidade de profundas transformações em nível planetário.
O uso intenso da internet tem possibilitado esse ativismo e, por isso, ganhou importância o 1º Fórum da Internet no Brasil, que reuniu este mês, em São Paulo, mais de dois mil ativistas, gestores públicos, professores, pesquisadores e políticos, numa ação coordenada pelo Comitê Gestor da Internet (CGI). No Fórum foram discutidos, essencialmente, os marcos regulatórios da internet no país e, principalmente, indicativos das teses que devem ser defendidas pelo governo brasileiro na relação com os demais países no que diz respeito à chamada governança da internet. Isso porque ela precisa ser administrada, como uma meta-rede que é, de forma independente dos governos, para que possa, efetivamente, se constituir no grande e fundamental espaço da liberdade de expressão e da comunicação planetária.
Os dados do mesmo CGI, recentemente divulgados, indicam como o uso da internet no Brasil constitui-se em algo que não pode ser desprezado e que demanda um olhar mais atento. E um olhar atento principalmente para a meninada. Uma em cada quatro crianças de 9 a 13 anos já usa internet, diz a pesquisa. E, curioso, usam justamente as redes sociais que, estranhamente, lhes impõem limites para o registro. Limites, obviamente, que não impedem nada, como os dados demonstram. Por exemplo, Orkut, Facebook, Twitter só permitem que seja efetivado o cadastro para os maiores de 13 anos. Isso, obviamente, faz com que todas as crianças, absolutamente todas, mintam no preenchimento do seu nascimento. Do ponto de vista pedagógico, nada pior do que isso. E eles estão na rede: 42% das crianças de cinco a nove anos usam internet em casa, o acesso na escola empata com o acesso nas lan houses (o que mostra a sua importância e relevância social) e seis em cada dez crianças já utilizam celular.
Falamos, portanto, de uma meninada literalmente conectada. Justo por isso, insistimos, temos que ter um olhar mais atento para este momento, e esse olhar tem que incluir o pensar na escola e nos professores. Professores que neste mês de outubro comemoram o seu (nosso) dia e, por isso, repetimos como um mantra, precisam ser fortalecidos. E fortalecê-los é pensar na melhoria das condições de trabalho, formação e salários dignos.
Criançada, juventude, adultos, professores, todos conectados e mobilizados na construção de um planeta justo, configura-se como um importante passo para as necessárias transformações da educação e do mundo.
Nelson Pretto é professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia e secretário Regional da SPBC-Bahia.
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