Shirley Alves
Baixinha, com óculos de grau e um jeito manso de falar. Perto do objeto de trabalho, ela quase desaparece. São os 60 quilos aparentes de um corpo magro contrastando com as 50 toneladas, em média, de um gigante composto por fibras de vidro, alumínio e ferro. Shirley Alves de Melo, 35 anos, é a única mulher mecânica de aviões de Pernambuco. Trabalha na área, que descreve como “rude”, há 15 anos. Em uma profissão em que o sexo oposto predomina, Shirley precisou ser firme e provar ser capaz de exercer a função para conquistar seu espaço.
“É muito difícil trabalhar na aviação. Quando você imagina uma mulher trabalhando, você remete logo a um ambiente fechado e aqui não. Trabalho em um local aberto, debaixo de sol e chuva. Com graxa e querosene. É preciso ter muita fibra e gostar mesmo do que faz”, conta a mecânica.
Mulher de fibra. É assim que Shirley diz que enxerga a figura de Maria Bonita e acredita que essa é a característica que pode aproximar as duas de alguma forma.
E, assim como não estavam nos planos de Maria Bonita se transformar numa cangaceira, virar mecânica de avião também não fazia parte dos sonhos de Shirley. “As coisas aconteceram. Eu tinha 20 anos. Fiz escola técnica na área de mecânica e precisava de estágio para cumprir a carga horária obrigatória. Foi quando me inscrevi numa agência de estágios e fui chamada para a Transbrasil (extinta empresa de aviação). Depois de seis meses, fui admitida”, lembra.
Pessoalmente, Shirley se adaptou muito bem à profissão. No entanto permanecer não foi tarefa fácil. Enfrentou preconceitos por ser mulher.
Quando questionada se já pensou em desistir, a resposta sai junto com um sorriso envergonhado: “Sim”. Porém,a palavra afirmativa vem rapidamente seguida da garantia de que esse é um pensamento que ficou no passado. Hoje casada com um colega de profissão, sente orgulho do espaço conquistado e acredita que, acima de tudo, é preciso ter amor pelo que se faz.
VAIDADE - Graxa, querosene, caixa de ferramentas pesada. Essas palavras logo nos remetem ao universo masculino. Mas são elementos que fazem parte do dia a dia de Shirley. Logo, vem a curiosidade: Dá para ser vaidosa?
A mecânica de aviões afirma com a cabeça. Apesar do uniforme, um macacão folgado de tecido grosso, e acessórios de segurança que não valorizam a feminilidade, depois do expediente, o lado “mulherzinha” pode ser colocado em prática.
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