Tragédia em escola deve ser apropriada pedagogicamente
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Há uma semana, o fato é noticiado em jornais de todo o país e internacionalmente. O caso do ex-aluno do colégio, Wellington Menezes de Oliveira, que atirou nos alunos, deixando 12 estudantes mortos, tem levantado diversas discussões relacionadas à violência.
Para Alves, medidas como colocar detectores de metais em escolas são paliativas. Pontos abordados como eficazes, segundo o pesquisador, são pensar no desarmamento, no projeto pedagógico da escola para lidar com vários tipos de violência, bem como na aproximação da instituição de ensino com a comunidade.
Portal Aprendiz: Há diversas reações ao ocorrido na Tasso da Silveira. Como o senhor sugere que o tema seja abordado nas escolas e em casa, por professores e pais?
Renato Alves: Momentos como os que ocorreram em Realengo devem ser apropriados de maneira pedagógica. Temos que tomar isso como um objeto de discussão e reflexão. Pensar sobre nosso presente, forma de vida, valores e condutas. De alguma maneira, dialogar sobre o cotidiano da escola e aprender por meio desse caso. Surge, então, uma oportunidade também de pais e professores abrirem um canal para conversa. Falar e refletir sobre os acontecimentos são maneiras de encontrar caminhos de lidar com tudo isso.
Aprendiz: A tragédia que aconteceu no Rio de Janeiro abre espaço para que tipos de debates sobre as escolas?
Alves: Esse é um caso excepcional. Fico preocupado, pois não se pode criar um falso pânico, achando que é algo que vai acontecer com frequência. A outra coisa é querer crucificar a escola. Pode eventualmente ter ocorrido alguma falha. O controle das armas de fogo, por exemplo, seria fundamental para tentar evitar fatos como esse.
Aprendiz: Então, há significado na retomada da discussão sobre o desarmamento?
Alves: Discutir o desarmamento é sempre pertinente, devido ao número de tragédias que armas causam na sociedade, desde acidentes até a letalidade que um instrumento desse provoca. A lei relacionada ao porte de arma já existe e não está sendo efetivada. Se tivesse um maior controle de quem compra e porta, o sujeito não conseguiria adquirir duas armas, carregador e munição, como no caso de Realengo.
Aprendiz: Um Projeto de Lei (PL) para colocar detectores de metal e aparelhos de raio-X na porta das escolas, do deputado federal Sandro Mabel (PR-GO), está na Câmara dos Deputados. Qual é sua opinião sobre o assunto?
Alves: O detector de metal e coisas semelhantes são medidas para tentar cortar o mal pela folhinha da copa da árvore. A medida é paliativa e ineficaz. Se houvesse, por exemplo, o detector de metal, esse ex-estudante poderia estar esperando o horário da saída dos alunos e fazer a mesma coisa que fez. Tem detector de metal nos bancos, mas a pessoa espera alguém sacar dinheiro e assalta fora. No caso do Mateus da Costa Meira [que atirou contra a plateia de um cinema em São Paulo em 1999], ninguém cogitou colocar detector. Para ver como as coisas suscitam ações diferentes.
Aprendiz: Por que as escolas têm sido cenário para atos de violência?
Alves: Não podemos dizer que acontece o tempo todo e nem fazer comparação com escolas dos Estados Unidos, como Columbine. É diferente, porque os casos estadunidenses típicos envolvem alunos que ainda estudam na escola e, na maior parte, de ensino médio indo para a universidade. No caso do Rio, é um ex-aluno de escola fundamental, onde é muito raro ter esse tipo de situação.
Aprendiz: Quando o assunto é violência na escola, qual é o antídoto para isso? Que medidas educativas podem ser tomadas?
Alves: Depende de que violência. Cada uma implica em um determinado tipo de estratégia. Há fenômenos diferentes, com implicações diferenciadas. Os mais comuns, de professor com aluno, ou entre alunos, devem ser olhados pela própria escola. Cada uma, com sua programática específica, vai ter que pensar em uma solução. As escolas são muito diferentes, uma pública no centro difere de uma na periferia da cidade. Mas, armas e drogas, por exemplo, uma escola sozinha não vai resolver, implica em política de segurança pública.
Aprendiz: Uma atuação da escola em conjunto com a comunidade que está ao redor dela ajuda no processo?
Alves: Abrir a escola para a comunidade é fundamental, extremamente importante. Inclusive, porque a escola é um espaço público. Colocar grades e muros impede a convivência da coletividade e causa isolamento da escola. Quanto mais se aproxima, faz a comunidade zelar por aquele espaço, cuidar dele. Mas, para isso, precisa estrutura e ordenamento.
Aprendiz: Seria viável ter no ambiente escolar, além de professores e monitores educacionais, psicólogos e assistentes sociais que pudessem diagnosticar preventivamente algum possível distúrbio de comportamento?
Alves: Tudo o que puder ter nesse sentido ajuda. No entanto, não tira a função da própria escola, do corpo escolar, da capacidade de identificar situações de risco e poder trabalhar com elas. Hoje, o pensamento está muito voltado para o paradigma da escola inclusiva, pessoas com diferentes condições em um mesmo espaço. O desafio é de a escola conseguir trabalhar com seus diferentes públicos. Claro que precisa de maior capacitação do professor, para que possa identificar estratégias.
Aprendiz: Quais são os impactos da midiatização de um fato como esse da Tasso da Silveira? Pode contribuir para alguma mudança ou só tende a gerar pânico?
Alves: Depende como a mídia coloca. Há jornais sensacionalistas, mas há também todas as discussões ligadas ao fato. Pensar no desarmamento, nas condições das escolas no país e não só no que aconteceu em si são debates que são interessantes de circular. Já os sensacionalistas, com certeza, não contribuem.
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