FONTE: Depoimento coletado por Otávio Luiz Machado e publicado no livro JUVENTUDE E MOVIMENTO ESTUDANTIL: ONTEM E HOJE
- Eu tenho que falar do MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR e a primeira coisa que me vem à mente é um verso de MANUEL BANDEIRA que fala da “vida inteira que poderia ter sido e não foi”. Porque o MCP acabou justamente quando começava, de fato, a viver. A PREFEITURA DO RECIFE e, em seguida O GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, na pessoa do PREFEITO e, em seguida GOVERNADOR MIGUEL ARRAES, deram-se conta da imensa miséria cultural – analfabetismo – da grande maioria da gente do Estado. Ao mesmo tempo, um paradoxo, era evidente a incalculável riqueza da cultura popular, nas suas mais variadas manifestações ao lado da imposição de dar a essa riqueza a devida atenção ou importância.
De início nossa participação era no sentido de ilustrar as aulas de alfabetização de adultos ministradas segundo o método do educador PAULO FREIRE. As aulas vinham por meio do rádio, eram razoavelmente áridas. Exigiam uma dose bem grande de adesão e atenção. O teatro – minha participação começou com o teatro – serviriam para amenizar ou alegrar o clima. Entretanto, tal tipo de teatro jamais havia sido feito entre nós. Tínhamos, por milagre, uma referência.
Durante a GRANDE MARCHA, MAO TSE TUNG se fazia acompanhar por um grupo de teatro cuja tarefa era a de informar aos habitantes das cidades ocupadas o significado da sua revolução. Esta foi a nossa primeira inspiração. Usar o teatro para falar das coisas do dia-a-dia, dos problemas que afligiam os habitantes da zona da mata pernambucana, chamar a sua atenção para o lamentável mundo em que viviam e que podia ser alterado. Enfim, era um teatro com óbvias ambições políticas, parente próximo daquele de agitação e propaganda dos primeiros tempos da REVOLUÇÃO RUSSA de 1917.
Durante a GRANDE MARCHA, MAO TSE TUNG se fazia acompanhar por um grupo de teatro cuja tarefa era a de informar aos habitantes das cidades ocupadas o significado da sua revolução. Esta foi a nossa primeira inspiração. Usar o teatro para falar das coisas do dia-a-dia, dos problemas que afligiam os habitantes da zona da mata pernambucana, chamar a sua atenção para o lamentável mundo em que viviam e que podia ser alterado. Enfim, era um teatro com óbvias ambições políticas, parente próximo daquele de agitação e propaganda dos primeiros tempos da REVOLUÇÃO RUSSA de 1917.
Mas, em breve tempo, nós nos encantamos por algo mais interessante: o teatro propriamente dito. Isso porque o pessoal reunido para o trabalho vinha das mais diversas origens e desiguais formações. Forçados pelas necessidades, nos vimos na obrigação de estudar – aprender - teatro em todos os seus segmentos, texto, direção, cenografia, figurino, música, etc. E um mundo novo, que nos sequer suspeitávamos que existisse, se abriu para nós. A agitação, a propaganda, a sujeição à política partidária foi, lentamente, deixando de ser o nosso alvo. Aprendemos que mais importante que gritar dos palco “abaixo isso ou aquilo” era preciso falar aos corações e ao afeto das pessoas.
Vinham-me sempre como lema uma frase do poeta MAIAKOWSKI, suicidado pela revolução, que gemia alto “em mim a anatomia ficou louca, sou todo coração, eu pulso sempre”. Nesta época tentamos nos aproximar a intelectualidade pernambucana, dar algo do nosso para eles, receber a preciosa colaboração que eles poderiam nos proporcionar. Por conta de um certo sectarismo reinante nos inícios dos sessenta fomos pessimamente recebidos. E massacrados. Foi quase o anúncio do que veio a ocorrer logo depois, nos dias seguintes ao golpe de 1964, quando o MCP foi literalmente destruído.
E estou dizendo precisamente isso, destruído, porque além das prisões indiscriminadas, quase todo, senão todo o acervo cultural, acumulado nos três anos de nossa existência, foi queimado. Uma pena. Pelo que, repito, o MCP foi uma vida inteira que poderia ter sido e não foi.
Vinham-me sempre como lema uma frase do poeta MAIAKOWSKI, suicidado pela revolução, que gemia alto “em mim a anatomia ficou louca, sou todo coração, eu pulso sempre”. Nesta época tentamos nos aproximar a intelectualidade pernambucana, dar algo do nosso para eles, receber a preciosa colaboração que eles poderiam nos proporcionar. Por conta de um certo sectarismo reinante nos inícios dos sessenta fomos pessimamente recebidos. E massacrados. Foi quase o anúncio do que veio a ocorrer logo depois, nos dias seguintes ao golpe de 1964, quando o MCP foi literalmente destruído.
E estou dizendo precisamente isso, destruído, porque além das prisões indiscriminadas, quase todo, senão todo o acervo cultural, acumulado nos três anos de nossa existência, foi queimado. Uma pena. Pelo que, repito, o MCP foi uma vida inteira que poderia ter sido e não foi.
JOSÉ WILKER
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