Explicações e respostas para a enxurrada no Minhocão
Sérgio Koide
O texto abaixo foi enviado à lista de emails de professores da UnB. Nele, o professor Sergio Koide responde a questionamentos sobre por que outras chuvas intensas na cidade não tiveram o mesmo impacto na UnB que o temporal de domingo. Republicamos aqui a mensagem com autorização do professor.
As chuvas intensas tendem a ser concentradas no tempo e no espaço e com frequência inversamente proporcional à intensidade. Assim, a tendência é de que, mesmo quando a chuva acontece em uma região mais ampla, ela tende a ser mais intensa em uma área menor. Isso é particularmente comum aqui na região do DF. Em geral, todos notam que aqui é comum vermos uma chuva muito intensa acontecer em um lugar e muito perto ter chovido muito pouco. Dependendo de onde essa área ocorra, é onde temos problemas maiores.
Na reportagem publicada pelo portal da UnB, há um equívoco na redação do que eu falei. Eu disse que no Inmet, localizado junto ao Sudoeste, foi registrada uma chuva de cerca de 25mm em uma hora, o que não é tanto assim. Mas, pelo relato do professor Ricardo Bernardes (professor de Drenagem Urbana e um dos grandes especialistas da UnB em gestão de águas pluviais), que estava na Colina na hora no temporal, a chuva deve ter sido bem mais intensa.
Em 2009, também em abril, ocorreu uma chuva com registros pelo Inmet com valores da ordem de 70mm em uma hora. Essa chuva esteve muito concentrada em torno do Eixo Monumental. A enxurrada nas quadras 201 e 202 foi tanta que alagou o subsolo de vários prédios comerciais e a passagem subterrânea no eixão. No entanto, as inundações só ocorreram nessa área.
Os sistemas de drenagem de águas pluviais compartimentam a drenagem por setores. Por exemplo, os dutos que drenam a Esplanada não têm interferência com os que drenam a parte da Asa Norte em que a UnB está. Neste evento do domingo, as águas alagaram a L3, passaram pelo estacionamento da FT e atravessaram as passagens pelo interior dos prédios da FT (isso ainda não tinha ocorrido na FT).
No ICC, já aconteceu desastre semelhante ao de domingo no início da década de 1970. O subsolo ficou todo alagado, e segundo relato do professor Francisco Pereira (professor da Engenharia Civil na época), com as águas entrando pelas aberturas dos auditórios, como as cenas vistas agora. A Copeve (que virou Cespe), que ficava no subsolo, inclusive perdeu equipamentos e provas que foram submersas. Na época em que entrei como aluno da UnB, eu ainda tive a oportunidade de ver a marca de enchente nas paredes dos auditórios. Quem é mais antigo aqui deve se lembrar.
Acho que o ICC, pelo seu porte e importância, não deve ser protegido por um sistema convencional de drenagem urbana, que estará sujeito a ser insuficiente de tempos em tempos. Acho que temos que pensar em soluções mais permanentes.
Por que não pensarmos em barreiras físicas ambientalmente razoáveis e com um desenho urbanístico que valorize a área entre o estacionamento e o ICC e que ao mesmo tempo impeçam a água de chegar ao prédio? Isso, além de um projeto de engenharia de manejo das águas pluviais que contemple um tempo de recorrência compatível com a importância do ICC e não com valores usualmente utilizados em projetos comuns, que provavelmente foram utilizados no dimensionamento da rede hoje existente.
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