EROSÃO
Universidade terá que devolver R$ 3 milhões, que seriam destinados a pesquisas sobre elevação do nível do mar no Grande Recife, porque perdeu prazo para elaborar projeto
Publicado em 23/09/2011, às 08h07
Do Jornal do Commercio
Foto: Rodrigo Lôbo/JC Imagem
Por não ter elaborado um projeto de pesquisa, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) terá que devolver R$ 3 milhões que seriam destinados a estudos sobre os impactos das mudanças climáticas no Estado, como a elevação do nível do mar na costa do Grande Recife.
Os recursos foram repassados pela Câmara dos Deputados (através de emenda parlamentar) e deveriam ser empregados em custeio, ou seja, no pagamento de material de consumo, além de bolsas e diárias para professores, estudantes e técnicos.
A universidade alega que não conseguiu concluir o projeto porque a verba era restrita a custeio. "Um projeto não pode ser montado apenas em cima de honorários. Envolve também a aquisição de equipamentos, o que não estava previsto na emenda", justifica o reitor da UFPE, Amaro Lins.
Ele relata ter consultado o Ministério da Educação sobre a possibilidade de alterar a destinação dos recursos. "A lei permite que até 20% dos R$ 3 milhões sejam aplicados em outra coisa que não o custeio, mas tivemos pouco tempo para formatar o projeto dessa forma", complementa.
Amaro Lins informa que normalmente a universidade elabora o projeto e depois sai em busca de recursos. "Tivemos várias obras financiadas por verbas de parlamentares, mas primeiro a gente elabora o projeto e depois vai em busca dos deputados. Dessa vez foi o contrário".
Cada deputado tem direito a destinar, por ano, R$ 12 milhões a projetos de sua escolha. Geralmente esse tipo de verba, de caráter eleitoreiro, é destinada a obras em cidades do Estado de origem do parlamentar, com o intuito de angariar votos.
O ex-deputado federal Raul Jungmann (PPS), que quer repassar o dinheiro para pesquisas, disse se sentir apunhalado com a notícia de que a universidade não elaborou um projeto. "Minha ideia era que Pernambuco montasse um sistema de alerta contra desastres naturais. Pensei que a UFPE tivesse capacidade para isso. Não dá pra acreditar que vão jogar fora esse dinheiro", reclama.
Sobre o fato de ter destinado o dinheiro para custeio, Jungmann diz que não faz diferença. "Se é pra pagar bolsa, qual o problema?", indaga. "O que importa é o dinheiro ser aproveitado para mitigar os impactos das mudanças climáticas na Região Metropolitana do Recife".
A capital pernambucana é apontada em estudo de 2007, do Ministério do Meio Ambiente, como uma das três cidades brasileiras mais suscetíveis ao avanço do mar. As outras são Fortaleza e Rio de Janeiro. Na avaliação do ex-deputado e também do reitor da UFPE, ainda é possível fazer uso da verba. "Vou pedir ao Ministério da Educação que transfira para o orçamento de 2012. Assim poderemos concluir o projeto", diz o reitor.
Um dos grupos envolvidos, do Departamento de Oceanografia, pleiteava R$ 600 mil em equipamentos e R$ 400 mil. A equipe, coordenada pela professora Tereza Araújo, pretende investigar a elevação do nível do mar na Região Metropolitana do Recife. "Todo mundo percebe que o mar está avançando, mas ninguém sabe dizer quanto, porque simplesmente não há um marégrafo disponível para a comunidade científica", alega a pesquisadora.
Os departamentos envolvidos, além do de Oceanografia, são o de Geografia, Designer, Arquitetura e História. "Cheguei a elaborar termo de referência para a contratação de uma empresa de tecnologia da informação. Perdemos tempo com reuniões e elaborando nossas propostas. Espero que ainda encontrem uma solução", desabafa o professor Ney Dantas, do Departamento de Designer.
Ele pretendia montar um sistema de comunicação para alertas de risco de desastres. "Seria uma plataforma de dados em que não só o poder público, mas também as pessoas, abastecessem com informações", esclarece.
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