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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

MATÉRIA: Especialistas discutem o ensino superior noturno

FONTE: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/01/02/especialistas-discutem-o-ensino-superior-noturno/

O crescimento dos cursos noturnos, que acompanhou a expansão das instituições de ensino superior desde a década de 1990, é um reflexo do aumento da demanda de estudantes trabalhadores. Manter o interesse dos alunos até o final do curso, no entanto, ainda é um desafio para as instituições, que, especialmente no turno da noite, precisam lançar mão de recursos que favoreçam a motivação dos estudantes para o aprendizado, como o oferecimento de currículo, carga horária e instalações adequados ao período, além de ter professores dinâmicos e motivadores.
Os cursos noturnos das instituições particulares são o universo mais representativo do aumento do ensino superior no Brasil. Estudo do Observatório Universitário, uma organização não governamental que analisa o setor universitário brasileiro, de agosto de 2009, estima que, em média, 70% dos alunos das instituições de ensino superior particular estão matriculados no período noturno.
O documento mostra que, em 1999, 55,7% dos alunos estudavam à noite. Oito anos depois, em 2007, o percentual passou para 61,7%. Enquanto o ensino diurno registrou 821.961 novas matrículas no período, os cursos noturnos registraram cerca do dobro, com 1.688.475 novos alunos.
O crescimento é atribuído aos novos estudantes oriundos majoritariamente das classes C e D, que trabalham durante o dia e por isso buscam a graduação à noite. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2002 e 2009, a proporção de universitários originários dessas classes sociais subiu de 45,3% para 72,4%.
Estrutura adequada
Para atender melhor esses alunos e garantir que eles permaneçam na instituição até a conclusão do curso, é preciso atentar às diferenças no perfil dos estudantes do diurno e noturno. “Normalmente não há uma gestão específica para esses segmentos, o que é uma falha. Isso pode desmotivar o aluno e afastá-lo da escola”, diz Humberto Felipe da Silva, consultor educacional da TP&S Consultoria.
De acordo com o consultor, são vários os fatores que podem contribuir para criar um ambiente acolhedor, de conhecimento e que mantenha o interesse do aluno no decorrer do curso. Um deles é a configuração do espaço físico, mais propício para circulação à noite, com estrutura adequada para receber os alunos tanto nas salas de aula quanto nos demais espaços educativos, como bibliotecas, ou setores administrativos do campus. É recomendado adotar uma boa iluminação, limpeza e instalações modernas com quadros de avisos informatizados, por exemplo, que chamam a atenção do aluno, além de possibilitar um diálogo mais direto com ele.
Outro fator essencial está justamente relacionado ao atendimento do estudante. É preciso conhecer o perfil do matriculado, suas aspirações e dificuldades e procurar manter uma comunicação de maneira individualizada com o aluno, a fim de lhe dar suporte para a resolução de eventuais problemas enfrentados, seja no que diz respeito a sua vida acadêmica ou em relação a dificuldades de ordem administrativa e financeira.
Para a professora Lourdes de Fátima Possani, doutora em Educação pela PUC São Paulo e organizadora do livro Reforma Universitária: sinais do Sinaes, um dos pontos mais importantes refere-se ao currículo e a questões pedagógicas. “Precisamos de um currículo diferenciado, que considere a peculiaridade do aluno trabalhador, sem que haja empobrecimento em relação a conteúdos e metodologia de ensino, bem como apoio pedagógico específico nas áreas onde for detectada maior necessidade de acompanhamento”, afirma a educadora.
Edson Nunes, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da Universidade Candido Mendes, também é favorável a um currículo ajustado. “`Podem-se oferecer disciplinas de educação suplementar, que complementem o conteúdo do curso”, aponta Nunes.
Especialistas e educadores concordam que o professor é um dos elos mais importantes no processo de ensino, pois é com ele que o aluno passa a maior parte do tempo na escola. Nesse sentido, uma dica é investir no corpo docente, com a contratação de professores dinâmicos e atentos às necessidades de aprendizado dos alunos.
“O professor deve respeitar e considerar a experiência de vida e de trabalho do estudante, propiciando-lhe articular sua experiência com novos saberes, no sentido de não só receber, mas também construir conhecimento”, afirma a professora Lourdes. Além disso, o docente deve se manter atualizado e propor novas abordagens de aprendizado.
Na Universidade Cruzeiro do Sul (UCS) o diferencial também está dentro da sala de aula. A instituição desenvolve o projeto Aprender na Prática, que estimula a relação dentro da classe entre professores e alunos. O método tem como eixo principal o professor, que deve incentivar a participação ativa e crítica do universitário, explorando o seu cotidiano e o aprendizado anterior. A intenção é valorizar o conhecimento do aluno e com isso motivá-lo a continuar no curso. A iniciativa gerou a publicação do livro Aprender na prática: experiências de ensino e aprendizagem, que reúne relatos de atividades dentro e fora da sala de aula, e se tornou uma referência para as ações da universidade.
Apoio complementar
Outro fator que assombra as instituições de ensino superior é o baixo nível de formação dos estudantes que saem do ensino médio. Em 2009, os alunos do 3º ano do ensino médio submetidos ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) somaram menos de 275 pontos na disciplina de matemática e 270 em português, desempenhos considerados inadequados para o período conforme avaliação do Todos Pela Educação. Para a entidade a pontuação mínima que deve ser obtida por esses alunos na escala do Saeb é de 300 pontos em português e 350 em matemática.
Para resolver o problema da baixa escolaridade dos jovens que chegam ao ensino superior, o consultor Humberto Felipe da Silva sugere às instituições implantarem mecanismos de nivelamento. “O nivelamento tem uma influência básica na capacidade de aprendizagem que reflete no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e na competência dos formandos”, afirma.
Na opinião de Fernando Soria, diretor de Negócios da Faculdade Sumaré, o curso superior noturno deve ser pensado levando em consideração o perfil educacional do estudante, que em sua maioria vem das escolas públicas. A instituição aplica, logo no primeiro semestre da graduação, testes de conhecimentos de matemática, língua portuguesa e informática, e a partir do resultado, traça uma estratégia para que o aluno evolua, sinta-se prestigiado e acompanhe as disciplinas do currículo.
Outro diferencial adotado pela Sumaré para os alunos do período da noite é ter uma grade de horários de entrada e de permanência nas aulas mais flexível nas sextas-feiras, além de incluir uma opção aos sábados pela manhã.
8 dicas que fazem com que estudar à noite seja mais agradável
  • Ambiente adequado para circulação à noite, bem sinalizado e com boa iluminação
  • Salas de aula confortáveis e demais espaços de convivência modernos e agradáveis
  • Adotar quadros de avisos informatizados e dinâmicos
  • Setor de acompanhamento e atendimento ao aluno individualizado
  • Carga horária adequada às necessidades do aluno trabalhador
  • Apostar em metodologias de ensino inovadoras
  • Oferecer disciplinas de complementação de conteúdo
  • Ter professores dinâmicos e atentos às necessidades de aprendizado
O aluno do período
Os estudantes do noturno são geralmente pessoas de classe média baixa ou classe baixa. Alguns são os primeiros representantes da família a ingressar em um curso superior. Segundo o último Censo da Educação Superior, em 2009, mais de 55% dos alunos eram mulheres. São jovens que trabalham, alguns já constituíram famílias, e dedicam pouco tempo à leitura. Em média, dormem de 5 a 6 horas por dia e estudam 3 horas por semana. Um parcela significativa mora longe da escola e o transporte, juntamente com a mensalidade, tornam-se o item de maior peso no orçamento. Ainda de acordo com o Censo, três de cada dez alunos matriculados em instituições particulares obtiveram bolsa de estudo. Entre o total de bolsistas, 1.019.532 (82,5%) são de programas reembolsáveis e 215.777 (17,5%) de não reembolsáveis.
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