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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

OPINIÃO: Movimentos versus Lideranças: ou quando um não chama pelo outro (Por Otávio Luiz Machado)

Chegando do protesto dos estudantes de Recife que reivindicam a melhoria do transporte público da cidade, a redução no valor das passagens e tantas outras pautas estudantis (agora não só eles, mas muito mais gente que a cada dia se incorporar na sua luta) no centro do Recife. Foi impressionante a energia e a vibração deles, também me impressionou bastante como a população está com eles. Isso foi expresso com buzinas, acenos, chuva de papel picado, abraços, apertos de mãos, palmas, gritos, falas e até com a presença de várias pessoas que acabaram aderindo à marcha. Com uma palavra de ordem bem articulada, com a escolha de trajetos estratégicos para passar, com o respaldo popular e uma incrivel capacidade de mobilização, o que posso dizer é que o ato-protesto foi muito bem sucedido, inclusive fazendo recuar qualquer ameaça de tropa de choque ou algo parecido. A generosidade durante o ato também foi importante, porque agiram para deixar passar rapidamente uma ambulância, fizeram a população compreender que o ato em si interessava a toda sociedade e o que faziam ao fechar as ruas em nada representava em interferir no direito de ir e vir das demais pessoas, pois só demonstrava que aquele ato era um verdadeiro serviço aos cidadãos. E isso foi compreendido, porque os estudantes entregavam um panfleto e conversavam com as pessoas nas paradas e nas janelas dos ônibus e carros. Um rapaz com um cartaz grande passava de onibus em onibus expondo uma tabela com os valores de passagens e finalizava dizendo que os usuários do transporte público estavam sendo roubados sem perceber. Me dediquei as quatro horas de caminhada acompanhando da "concentração" - no famoso prédio da antiga Escola de Engenharia de Pernambuco da rua do Hospício -, passando pela Conde da Boa Vista todinha até a Agamenon e voltando direto até o Palácio do Campos das Princesas. Tive durante esse tempo uma verdadeira aula de cidadania.
Mas após chegar em casa lá pelas tantas me deparei com uma notícia no mínimo estranha do que tinha presenciado: houve uma reunião de algumas poucas lideranças com o Governador Eduardo Campos cujo início foi bem antes da chegada dos que protestavam pelas ruas do Centro e se preparar para seguir até o Palácio. As primeiras informações davam conta que as lideranças estavam aderindo e dando sua contribuição num ato programado não pelas pessoas que teoricamente seriam de sua base como é o caso dos cerca de 1.500 estudantes que estavam marchando em protesto até o Palácio do Campo das Princesas, mas o próprio governador Eduardo Campos. 
Vejo que a equipe do Palácio do Campos das Princesas organizou de última hora uma reunião com diversos representantes de entidades estudantis, primeiro para barrar a passeata e dividir o movimento que crescia e se tornava vitorioso a cada metro quadrado andado, segundo por perceber a força dessa passeata e o quanto ela está mexendo com a opinião pública, desconstruindo em pouquíssimos dias diuturnamente a imagem do Governador Eduardo Campos. Como os estudantes que foram para a reunião sabiam do protesto, certamente preferiram burocratizar a luta e se antecipar pelegamente falando de algo que quem deveria decidir era o conjunto dos estudantes. Como o cupulismo (quem manda é a direção e decisão em assembléia é figuração) tem predominado nos movimentos estudantis, só resta dizer que é lamentável a atitude desses estudantes que não entraram na luta legítima dos estudantes de reivindicar tudo por meio do protesto público, vão negociar sem ouvir a maioria e tudo indica que não estão nem ai para a radicalização democrática das entidades e dos movimentos estudantis, restando atribuir NOTA ZERO  para essas "lideranças". 
Talvez essas lideranças não saibam que uma ASSEMBLÉIA EXTRAORDINÁRIA seria algo muito mais democrático, sério e produtivo para os estudantes e a sociedade. O preço da passagem já aumentou, os onibus lotados continuam rodando nas ruas e a mobilidade urbana do Recife continua uma "maravilha". Um dia ou dois dias para se sentar com o governador com o respaldo necessário dos seus pares não faria a menor diferença. Ou essa gente gosta de beijar os pés do governador ou não aprenderam nada sobre movimento estudantil, chegando aos cargos máximos das entidades por pura sorte ou oportunismo.
Ficou muito feio em especial para a UEP participar dessa reunião. Se ela não sair desse círculo mortal que entrou e aderir à luta com garra da mesma forma que os estudantes que comõe a sua base, talvez um desgate maior e com consequequências para sua diretoria será inevitável . Lembro-me de uma situação no mínimo curiosa do movimento estudantil, que aconteceu com um Presidente da UNE, o Gustavo Petta. Num raro protesto da UNE que atingia o governo federal o Petta foi se encontrar com Lula um dia antes desse protesto. Em suma, se se faz um protesto para reivindicar alguma coisa na base da pressão só após a ocorrência disso que na verdade se senta para negociar. Mas esse pessoal gosta de se antecipar, sempre. Para não ficar mais feio para a UEP a minha sugestão é que eles retirem uma pauta em conjunto com os estudantes e depois as leve ao Governador. Seria pelo menos mais honesto com os estudantes e mais digno até com o próprio governador, porque fica parecendo que o governador que controla o processo o tempo todo e isso não pega bem nem pra ele.
 
 

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2 comentários:

  1. Negociar não é errado , e o resultado será tão melhor quanto o acumulo de luta. O problema para isto é que muitos dos que estão nas ruas conjugam o verbo representar como algo limitado ao individual , nada de representação coletiva, Não estamos mais ná epoca e na possibilidade de realizar a democracia direta , estilo Ágora, permanentemente, Esta ojeriza a representação e as entidades levaram ao abandono destas aos instrumentadores do movimento e a falta de perspectiva de luta. Querem derrubar preço de transporte , governador , corrupção de rodo , sem nenhuma organização (Partido, entidades , ,,,) só num assembléismo ( sem a participação sequer de 0,001% ) e sem capacidade de avaliar a hora de entregar uma pauta MÍNIMA de negociação. Mas tudo bem , o carnaval e as aulas estão chegando.

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  2. O problema é que, todos aqueles estudantes que sofreram os 3 dias de protestos, que tomaram tiro assim como eu, não estavam sabendo de nenhum encontro com o governador. Eles como "representantes" dos estudantes de pernambuco deveriam ter feito uma reunião, como fizeram comitês organizadores de protestos, para avisar e detalhar o que iria ser feito. Quer dizer, que uma ou duas pessoas reprensentam a opinião de todos aqueles que foram para as ruas?

    ABSURDO!

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