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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

MATÉRIA: Suposto relato de menina que recebeu gravata na manifestação circula nas redes sociais

FONTE: http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2012/01/25/suposto_relato_de_menina_que_recebeu_gravata_na_manifestacao_circula_nas_redes_sociais_123155.php





Eis o texto de Juliana:

"O INSUSTENTÁVEL PESO DO ESTADO

Meu nome é Juliana, sou aprendiz de parteira e doula, formada em fisioterapia, mulher cearense erradicada no Recife... cidadã do mundo. Logo depois que o dia 23/01/2012 me acordou com seus raios solares, programei meu dia e se tudo ocorrese bem seria um dia normal, normal, normal. Mas graça ao insustentável peso do estado meu dia foi um tanto atípico. Lá estava eu indo almoçar na casa de um amigo quando cruzei a boa vista e vi a passeata. O confroto com o choque já havia acontecido. Como qualquer outro cidadão que utliza o meio de transporte coletivo senti que devia cumprir meu dever de quem acredita que ainda pode ser diferente e segui a passeata. Meus planos era desviar o caminho, assim que fosse possível, para manter a programação. Segui a passeata até o cruzamento da Boa Vista com a rua da Soledade e nesse momento os manifestantes, que já eram poucos, haviam decidido que continuariam a caminhada até o Derby. O tempo foi passando e a notícia que o choque estava se aproximando foi alterando os ânimos. Houve mudança de planos e iniciou-se a dispersão.

Alguns manifestantes, inclusive eu, entraram na contra-mão da rua da Soledade para se dispersar. Por algum motivo o Coronel se alterou bastante e começou a agredir verbalmente e tentou impedir fisicamente os manifestantes de continuarem a caminhar. Continuei na contra-mão (o único crime que cometi =) ) na rua da Soledade achando que daqui a alguns minutos meu dia, que já não estava mais tão normal assim, continuaria caminhando conforme a programação. Passei pelo Coronel e quando já estava de costas senti uma dor no meu braço. Foi muito rápido. Já estava presa e sendo carregada. Demorou alguns segundos até cair a ficha: peraí um momento, se eu não fiz nada porque estou sendo presa???

Era real e eu estava sentindo fisicamente o insustentável peso do estado. Um sorriso de aceitação me escapou da boca. Se vão me levar que seja com dignidade. E a partir daí resisti. Foram minutos que duraram uma eternidade. Consegui escapar das mãos do Coronel, mas minha liberdade durou muito pouco. Se eu estava achando que meu braço estava dolorido era porque eu ainda não havia experimentado o tal do "mata-leão". As lembranças ficam um pouco confusas, mas eu lembro perfeitamente a sensação de ser levantada do chão puxada pelo pescoço. Dói. Nesse momento a indignação correu meu corpo e foi nessa hora também em que mais senti medo. Nessa hora você não pensa em nada e tudo ao seu redor some. Você só quer sair dali. Eles apertam pra faltar oxigênio e fazer você perder as forças. Você pensa em tudo e nada ao mesmo tempo. A sensação não tem como descrever. É assustador. Resisti como pude, mas a luta não é justa quando seu oponente possue força pra te arrastar com apenas um braço. O tempo todo gritava: porque estou sendo presa? Fui levada até o carro, onde já estavam os outros dois detidos.

Dentro do carro a adolescente, de apenas 14 anos, estava em estado de choque. Vi seu medo e seu dessespero escorrendo através de suas lágrimas. Ela havia recebido spray de pimenta diretamente na cara. Estava em pânico. O outro rapaz, 19 anos, mesmo tendo recebido também spray estava bem tranquilo. Quando o Coronel entrou no carro a viatura partiu. O mais irônico nesse momento vou ter presenciado a tentativa dos policias em acalmar a garota. Inuteis! Fomos levados, inicialmente, para a delegacia mais próxima, mas não poderíamos ficar ali porque existia uma de menor detida. Já nessa delegacia o Coronel, que ganhou alguns arranhões no braço durante a confusão, falou em me acusar de lesão corporal e de dano ao patrimônio porque no meio da confusão seu celular de trabalho havia sido quebrado.

Acusada de lesão corporal e dano ao patrimônio??????? Como assim??? Impotência...

Fomos levados a delegacia para criança e adolescente. Nesse meio tempo as fotos já circulavam pelas redes sociais e o poder da internet (que o estado tbm quer controlar) demonstrou do que pode ser capaz. O tempo de espera foi loooooooooooongo. Acusações, tensão, falta de fome, espera, falta de informação, impotência, dor de cabeça, hematomas, boca seca, borboletas no estômago, espera... logo chegaram nossos advogados, foi logo três de uma vez. Peeeense que estávamos bem assessorados! Deixo aqui meus agradecimentos a Pedro, Natali e John. A presença deles deixou nossos corações mais tranquilos, pois agora tinha alguem que entendia a língua deles.

Enquanto estava dando meu depoimento para o delegado o mesmo recebeu uma ligação que disse ser da Coordenadora dos Plantões. Eles discutiram sobre o artigo 262 do código penal.
Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento:
Pena - detenção, de um a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta desastre, a pena é de reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - No caso de culpa, se ocorre desastre:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Forma qualificada

Pelo que entendi da conversa ela estaria sugerindo que fossemos enquadrados nesse atigo. Contudo, o delegado afirmou que pela conversa que tinha dito com o coronel não cabia tal artigo, pois não havia ocorrido nenhum fato que justificasse tal acusação. Ainda vivemos na ditadura, meu povo, onde ordens são dadas através de ligações! A pressão estava vindo direto da SDS. No final das contas a acusação de lesão corporal foi dada para a menor e esqueceram a acusação de dano ao patrimônio. Vai saber o que se passou, né? Resumindo, fui acusada de desacato, desobidiência e resistência a prisão. Neguei todas as acusações, mas vou responder a um TCO (termo circunstancial de ocorrencia).

O corpo acordou dolorido, com alguns hematomas e ainda estou engolindo com dor. As marcas ficam e a luta segue...

Peço desculpa pela demora na resposta, mas estava sem net e no outro dia do ocorrido tive que viajar. Gratidão por todas as mensagens. Gratidão pela preocupação. Gratidão pela força. Gratidão pelo companheirismo. Gratidão pelo cuidado. Gratidão pelo amor.

Hoje vivemos a ditadura da democracia. É a democracia relativa. Tudo depende de quanto você pode pagar. E aí, vai pagar quanto?

Viva a liberdade de expressão!
Todo poder ao povo!
Resistir até o fim!

Namastê!
Mente vasta
Céu Infinito." Enviar para o Twitter

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