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sábado, 12 de fevereiro de 2011

"Ajudei a derrubá-lo", diz jovem egípcio após queda de Mubarak

"Ajudei a derrubá-lo", diz jovem egípcio após queda de Mubarak

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/874297-ajudei-a-derruba-lo-diz-jovem-egipcio-apos-queda-de-mubarak.shtml


Cidades egípcias foram tomadas por comemorações após a renúncia do ditador Hosni Mubarak nesta sexta-feira. A multidão que realizou protestos por 18 dias nas ruas comemorou a vitória sobre o dirigente, que permaneceu por quase 30 anos no poder.

"Nós derrubamos o regime, nós derrubamos o regime!", foi o grito de centenas de milhares de pessoas na lotada praça Tahrir, no Cairo, principal ponto de concentração dos manifestantes.

Acenando bandeiras do país, muitos choraram, vibraram e se abraçaram quando foram informados da renúncia do presidente. Motoristas fizeram um buzinaço e pedestres correram pelas ruas com gritos de comemoração, cenas que também foram vistas em diversos pontos do país.

Na praça Tahrir, eles gritaram: "Deus é o maior." "Sou um dos que ajudou a derrubá-lo. Estou aqui há 17 dias. O futuro do Egito está agora nas mãos do povo", disse o cantor Hani Sobhy, de 31 anos, comemorando na praça.

"Não dá para acreditar. Esse é o fim de todas as injustiças", disse Mohammed Abu Bakr, estudante de 17 anos.

Mubarak transferiu o poder ao Exército, encerrando suas três décadas de governo no maior país árabe do mundo.

Do lado de fora do prédio da TV estatal do Egito, manifestantes cumprimentaram soldados que estavam no local para proteger o edifício. Alguns pularam sobre os tanques.

"Não acredito que verei outro presidente na minha vida", disse Sherif el Husseiny, um advogado de 33 anos. "Nada mais pode parar o povo egípcio. É uma nova era para o Egito", disse.

O treinador esportivo aposentado Hassan Abdel Halim acrescentou: "Isso deveria ter acontecido há uma semana. O único problema é que agora será um regime militar. Eu gostaria de uma transição tranquila após eleições. Agora teremos um regime militar, mas isso é o que o povo quer."

RENÚNCIA

Nesta sexta-feira, após 18 dias de intensos e violentos protestos que tomaram diversas cidades do Egito, Mubarak, 82, renunciou ao poder depois de comandar uma ditadura com mão de ferro durante 30 anos. O anúncio foi feito pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, na TV estatal. Em poucos minutos, centenas de milhares estavam em festa e aos gritos na praça Tahrir, epicentro das manifestações de oposição.

"Presidente Hosni Mubarak decidiu renunciar como presidente do Egito", disse Suleiman, em um breve anúncio, acrescentando que o poder foi entregue às Forças Armadas.

Segundo Suleiman, a decisão foi tomada diante das "difíceis circunstâncias pelas quais o país passa".

A saída de Mubarak solidifica a crise no mundo árabe, sendo a segunda ditadura a ruir na região em menos de um mês. Ainda no dia 14 de janeiro a Revolução do Jasmim levou o ditador da Tunísia, Zine el Abidine Ben Ali, a abandonar o país, em meio ao movimento que se alastrou para outros países, causando protestos na Mauritânia, Argélia, Jordânia e Iêmen.

Após o anúncio, uma explosão de alegria tomou as ruas do Cairo. Centenas de milhares de egípcios agitaram bandeiras, choraram e se abraçaram em celebração. "O povo derrubou o regime", cantavam em coro.

A renúncia ocorre menos de 24 horas depois de fortes rumores de sua saída imediata do poder. Na noite de quinta-feira, Mubarak discursou à nação e disse que passava parte de seu poder a Suleiman, mas permaneceria até setembro --quando estão previstas eleições presidenciais. O discurso de "fico" causou fúria nos manifestantes que marcharam em direção ao Palácio Presidencial aos gritos para que deixasse o poder.

TRAJETÓRIA

O ditador Mubarak ascendeu na Força Áérea --principalmente pelo seu desempenho na guerra de Yom Kippur com Israel-- e tornou-se vice-presidente em 1975. Ele assumiu a Presidência quando islamitas mataram a tiros seu antecessor, Anwar Sadat, em um desfile militar em 1981.

Mubarak se beneficiou de artigos da Constituição egípcia que ditam mandatos presidenciais de seis anos com um número de reeleições indefinidas. Além disso, alterações à lei fizeram com que a vitória de candidatos de outro partido que não o seu fosse praticamente impossível.

Sob denúncias de corrupção e em meio a diversas acusações de abusos de autoridade e prisões tornadas possíveis devido ao estado de emergência, em vigor há 30 anos no país, a imagem de Mubarak deteriorou-se ao longo dos anos.

Aliado de Washington na região, o ditador usufruía de boas relações com o Ocidente embora fosse fato conhecido de que seu governo era uma ditadura de mão de ferro.

Mubarak também era bem visto por ter mantido um acordo de paz com Israel, assinado em 1979, país com o qual o Egito travou três guerras.

Nas eleições legislativas de novembro passado, o partido de Mubarak ganhou cerca de 90% dos assentos no Parlamento, que viu a principal oposição islâmica perder todos os seus 88 lugares, garantindo ao partido de Mubarak as decisões do Parlamento e apertando o punho Mubarak no poder.

PROTESTOS

Os violentos protestos registrados no Egito por mais de duas semanas registraram quase 300 mortes, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), além da morte de jornalistas e diversos ataques à imprensa.

Iniciadas no Cairo, as manifestações se espalharam por outras cidades, como Alexandria e Suez.

O Exército teve um papel crucial desde o início da crise, por vezes apoiando a população mas em algumas ocasiões também abrindo fogo contra os manifestantes.

Nesta sexta-feira, centenas de milhares de pessoas fizeram orações na praça Tahrir, onde clérigos traçaram paralelos entre a luta dos manifestantes contra Mubarak e a do profeta Moisés com o antigo faraó. "Que Deus force os opressores para fora!", os clérigos diziam. "Amém, amém", respondiam os fiéis. Depois, seguiram para o palácio presidencial.

Do lado de fora do prédio, homens rezavam atrás de veículos blindados. Os militares não interferiram, apesar de eles terem bloqueado as principais ruas que levam ao palácio, um grande complexo onde Mubarak conduz a maioria de suas tarefas oficiais.

"Abaixo, abaixo Hosni Mubarak!", cantavam os manifestantes. Centenas deles andaram por mais de uma hora para chegar até o palácio na noite de quinta-feira, saindo do epicentro dos protestos, a praça Tahrir, no centro do Cairo.

"Saia! Por que você continua?", gritavam cinco mulheres idosas. "Trinta anos é o suficiente", elas diziam ao ditador, de 82 anos de idade. O número de manifestantes no palácio já era de 2.000 no início da tarde.

"Não sairemos até que Mubarak renuncie e, se Deus quiser, o protesto de hoje será pacífico", disse Yasmine Mohamed, 23, uma estudante universitária. "Tudo ficará bem e ele renunciará com certeza." Enviar para o Twitter

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